Arquivo de Maio, 2013



A reprodutibilidade técnica e as novas formas de ver

Partindo dos conceitos expostos por Benjamin em seu mais famoso ensaio, A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica, de 1936, dentre as várias possibilidades, podemos constatar que mesmo a mais perfeita reprodução de uma obra de arte carece da presença, do “aqui e agora” da obra original, de sua existência única no espaço em que se encontra. Sendo assim, diante da reprodução técnica o original mantém sua plena autoridade, pois a sua “aura”, sua autenticidade, o aqui e agora num determinado espaço e tempo, jamais serão colocados na cópia.

Mas a reprodução técnica da obra de arte não era vista por Benjamin como algo negativo, pelo contrário. As reproduções possibilitaram uma maior democratização da arte e até mesmo criaram novas formas de produção artística, que, antes da reprodução em massa seriam impossíveis. É o caso, por exemplo, do cinema. As vanguardas do início do século XX e a arte moderna em geral se beneficiaram dessas possibilidades, resgatando e apresentando novas produções artísticas através de cópias reproduzidas.

O fato é que os meios de reprodução técnica se ampliaram e hoje se apresentam de formas diversas, temos como exemplo as obras de arte vistas no ambiente virtual. As imagens reproduzidas e transmitidas online, e as formas de visualização que elas  oferecem, mudaram a apreciação do espectador sobre as mesmas. De certa maneira, qualquer obra reproduzida implica outra forma de ver, mas, plataformas como o Google Art Project, por exemplo, elevam esta mudança à extremos.

Usaremos aqui, estritamente, a pintura como exemplo. Devemos nos atentar ao fato de que as pinturas, quando feitas, foram pensadas e criadas pressupondo certo distanciamento do espectador. Mas hoje, com as câmeras de alta definição que capturam as imagens que posteriormente são inseridas nas plataformas online, podemos e queremos ver a cerne destas pinturas, podemos ampliar e ver detalhes e formas que até mesmo o próprio pintor não teve acesso.

Pode parecer que esta nova possibilidade de visualização em nada altera nossa relação com as obras, mas este novo meio certamente afeta nossa forma de recepção e apreciação da obra de arte, que agora passa a ser conduzida por um “olho não humano”. Se não temos consciência desse fato em nossas “visitas” virtuais corremos o risco de cair no abismo da fragmentação que estes próprios mecanismos sugerem.

Em toda imagem reproduzida é incorporada uma nova forma de ver, uma reprodução fotográfica implica outra postura frente à imagem observada. Mas se essa mudança já era evidente, desde as reproduções impressas, com a reprodução em um espaço virtual, o que temos não é somente uma forma de visualização alterada, mas sim, uma fruição totalmente diferente da realidade da própria pintura.

Durante a reprodução ou exposição da obra de arte, através de meios que conduzem a uma visualização do “invisível”, devemos estar atentos que a própria singularidade da obra foi alterada, a imagem se divide em vários sentidos, se fragmenta em uma experiencia diluída e distante.

Que esta fragmentação, ou essas novas formas de ver, não se tornem mais importantes ou mais interessantes, do que o desejo de vivenciar a pintura ou qualquer outra obra de arte em sua integridade.

Evandro Santos

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Referências:

BENJAMIN, Walter – A Obra de Arte na Época da sua Possibilidade de Reprodução Técnica. In BARRENTO, João (Org.) – A Modernidade. Lisboa: Assírio & Alvim, 2006, p. 207-241.

O pós-modernismo televisivo: o caso de Community

Community é uma sitcom norte-americana criada por Dan Harmon e transmitida em horário nobre pela cadeia de televisão NBC. A série centra-se nas peripécias de um grupo de sete pessoas que frequentam um Community College e que se juntam para formarem um grupo de estudo de Espanhol. Jeff Winger, Britta Perry, Abed Nadir, Shirley Bennet, Annie Edison, Pierce Hawthorne e Troy Barnes todos de idades, backgrounds e motivos diferentes para terem ido parar a este local. Até aqui tudo normal. Os estereótipos habituais nas personagens, uma comédia passada no meio “universitário”. Nada de novo.

O que faz de Community uma série relevante e prezada, não só pela crítica como por uns sedentos (não muito numerosos) fãs, é o seu olho clínico para a sociedade, mas sobretudo para a história da pop culture norte-americana. É aqui que pode entrar o pós-modernismo em Community. O olhar crítico para conceitos pré-estabelecidos. Pegar em ideias e conceitos já praticados e celebrizá-los e remediá-los, fazer algo novo a partir deles, dissecando-os, colocando a nu os seus vícios e gozando com eles. Desde os maiores clichés das comédias românticas hollywoodescas, os westerns, Star Wars, zombies, o cinema de ação, a ficção científica, as séries policiais, os jogos RPG e, como não podia deixar de ser os vícios das próprias sitcoms mainstream. Nada escapa.

 (Para quem está familiarizado com Doctor Who este segmento é prodigioso)

Tudo isto ganha uma nova camada e torna-se absolutamente desconcertante quando o foco está na personagem Abed. A personagem principal, ou pelo menos a partir da qual a história é contada é Jeff, porém com o passar dos episódios vamo-nos apercebendo que Abed, o observador, a consciência do grupo, transforma aquele que seria sempre um bom texto num fenómeno de estudo. Ele tem uma característica muito peculiar: comunica, diálogo sim, diálogo não, recorrendo a expressões, falas e cenas celebrizadas no cinema e na televisão. Condiciona toda a sua ação com se a sua vida fosse um filme, da qual ele próprio é realizador. A recorrência a Abed como escape ficcional cria um paradoxo do qual a série vive imensas vezes. E é neste paradoxo realidade/ficção dentro da própria trama ficcional e o uso e abuso da remediação da cultura popular anglo-saxónica onde reside o seu valor acrescentado. Não existe aqui uma grande história, profunda, complexa, arrastada até ao limite do melodramatismo.  Existe uma simples vontade de criar/recriar e reinventar um género.

                                                                                                       Paulo Silva

O homem e o ciberespaço!

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Foucault considera que as tecnologias do sujeito “(…) permitem aos indivíduos levar a cabo através dos seus meios ou do recurso a outros um certo número de operações sobre os seus corpos e almas, pensamentos, conduta e forma de ser, para se transformarem com o objectivo de desenvolverem um certo estado de felicidade, pureza, sabedoria, perfeição ou imortalidade”  (Foucault, 1998: 18).

Com o gigantesco crescimento dos meios de comunicação em massa, durante o século XX, foram crescendo também as dificuldades em se distinguir cultura erudita, popular e massiva. Com o tempo, novas formas de consumo cultural surgem a partir das novas tecnologias disponíveis, como as fotocopiadoras, as cameras de video e de fotografia digitais, gravadores de áudio etc, possibilitando aos novos usuários destas mídias o início de uma interação e de uma forma mais personalizada de absorver a informação.

É A GRANDE ESPLOSÃO DAS MÍDIAS!

É o surgimento de uma série de equipamentos, que gradativamente passam a ocupar tanto o espaço doméstico, inserindo uma série de novas relações entre os membros da família, quanto o próprio corpo humano, com os mp3, aparelhos celulares, laptops etc. Ao mesmo tempo, era crescente a tendência para os trânsitos e hibridismos dos meios de comunicação entre si, inaugurando uma nova dinâmica e possibilitando aos consumidores a escolha entre produtos simbólicos alternativos. Os espectadores começaram a se configurar também em usuários, e este é o momento crucial para se perceber a diferença trazida pela era digital. Portanto, isso significa que começou a mudar a relação receptiva de sentido único, tão presente no televisor, para o modo interativo que é exigido pelo computador.

Em conseqüência da familiarização com esses meios digitais, combinar-se com maior facilidade elementos de universos virtuais e do mundo concreto, questionando a visão tradicional do homem e do mundo, assim como uma nova estética contemporânea, produzindo então formas híbridas de linguagens visuais.

O questionamento clássico da filosofia “quem sou eu?” Hoje é utilizado para decifrar onde começa o homem natural, onde começa o homem digital. É diante da importância e efervescência de vivências virtuais/reais na contemporaneidade, que se torna imprescindível problematizar a formação de sujeitos virtuais. Nesse sentido, o sujeito social é entendido através da relação duplamente cindida entre homem e máquina, entre real e virtual.

Essa vida amplamente tecnologizada, vivida em velocidade high tech, afeta intimamente os sujeitos, transforma suas relações e inaugura novos formatos de sociabilidade nas quais eles (re)inventam suas próprias formas de (sobre)viver. Essas novas tecnologias, passam ainda a multi-externalizar nossa presença e nosso cérebro. Quantas pessoas que conhecemos possuem email, participam de salas de bate papo ou fazem parte de comunidades e fóruns virtuais? Médicos já podem operar a distância, namoros surgem entre pessoas de diferentes continentes, bibliotecas inteiras são acessadas na rede, comunidades de interesse, como o Facebook, agrupam pessoas de todos os países. Trata-se do corpo plugado, onde um usuário se move no ciberespaço enquanto seu corpo físico apresenta-se conectado no computador, apresentando sempre algum nível de imersão. É devida essa situação que surge também a figura do avatar:

“Um avatar é como uma máscara digital que pode se vestir para se identificar a uma vida no ciberespaço”. (DOMINGUES, 2002:119)

Os avatares são figuras gráficas, ilustrações, que habitam o espaço virtual para quais os usuários emprestam suas identidades. É a representação gráfica do cibernauta que pode se movimentar nos ambientes do ciberespaço, encontrar outros avatares e comunicar-se com eles, e mesmo criar quantos avatares quiser. Esta situação é um bom exemplo para se retratar as novas formas e possibilidades de socialização na cultura digital.

Caroline Dominguez

Imediação e a Hipermediação, transparência e opacidade!

Remediação  é definida por Paul Levinson como o processo “antropotrópico” pelo qual as novas tecnologias dos media tornam melhores ou rectificam as tecnologias anteriores. Bolter e Grusin (2000: 273) usam remediação como lógica formal pela qual os novos media renovam as formas dos media anteriores. Ao lado da imediacia e da hipermediacia, a remediação é um dos três elementos da sua genealogia dos novos media.

Portanto, temos de salientar quando falamos de remediação que esta  labora nesses sentidos: tanto os novos media adquirirem características de médias anteriores, como vice-versa.

Hipermediacia é estilo de representação visual cujo objectivo é lembrar ao espectador o meio que ele usa para ver. É uma das duas estratégias da remediação; a outra é a imediacia. Imediacia é o estilo de representação visual cujo objectivo é fazer esquecer ao espectador a presença do meio (tela, filme fotográfico, cinema, etc.) e acreditar que ele está na presença de objectos de representação.

Bolter e Grusin argumentam que os novos media encontram significado cultural precisamente porque prestam homenagem e renovam os media anteriores como a pintura de perspectiva, a fotografia, o filme e a televisão.

Os media anteriores renovaram-se face aos media anteriores: a fotografia remediou a pintura, o filme remediou a fotografia, a televisão remediou o filme, o teatro de revista e a rádio.

Philip Steadman, que analisou a obra de Jan Vermeer (Vermeer’s Camera, livro de 2001), nomeadamente a Lição de Música, conclui que o artista empregou a câmara escura para obter melhores pormenores nas cenas que pintou. Por isso, e na sequência de Steadman, Jay David Bolter e Richard Grusin defendem que, se a imagem de Vermeer é uma fina imitação da realidade, quadros gerados por computador tendo como exemplo a pintura de Vermeer (ou outra qualquer) efectuam um trabalho de remediação (Bolter e Grusin, 2000: 115-119).Image

Os novos media estão a fazer o mesmo que os velhos media fizeram, apresentando-se como versões aperfeiçoadas dos outros media. Segundo McLuhan “o conteúdo de um meio é sempre outro meio.

Voltando aos conceitos de Bolter e Grusin, os novos media oscilam sempre entre a imediação e a hipermediação, entre transparência e opacidade. Os novos media digitais não são assim os agentes externos de uma cultura inocente, eles emergem de dentro dos contextos culturais e recriam os outros media que estão embebidos em contextos culturais semelhantes.

Caroline Dominguez

Arte e Tecnologia

Eisntein provou que o tempo e o espaço são relativos, mas coube a tecnologia propriamente dita por isso as escancaras, e mais precisamente, se podemos contar o tempo pela evolução tecnologica, o maior desenvolvimento da tecnologia diminuiu cada vez mais o seu próprio tempo necessário a sua evolução. E a cultura, como parte do homem e de seu mundo não se manteve imune, a arte foi inubitavelmente atingida.

É fácil encontrar exemplos nos quais a tecnologias funcionam como veiculo comunicativo, divulgador e parte integrante da arte, ou ainda de uma pseudo-arte: a televisão, a rádio, a internet, propalam informações diversas em seus funcionamentos, e aliás, transportar é a premissa deste, afinal, o que seria de todos esses equipamentos sem seu caracter comunicativo?

Em especial esta tecnologia não transforma a arte em questão intencionalmente em sua essência, no entanto, ou deixa a arte intocada ou a adapta, de forma que como exemplo: um concerto transmitido via internet, não altera a arte em substância, no caso a música, porém sabemos que não é a mesma sensação de como assistir in loco.

Em outros casos se tenta dar uma originalidade independente as artes que são derivadas de uma mesma, como nos casos das telenovelas, dos seriados e do cinema em relação ao teatro, de certo é claro que estes últimos são difrentes entre si, mas cabe reconhecer que são todos derivados do teatro, e que por exemplo, se não tivesse a televisão (divulgador tecnologico) as telenovelas seriam recitais teatrais, o mesmo para os seriados e o cinema, ou seja, a arte não foi alterada em sua essência e sim adaptadas pela tecnologia.

Utilizar a técnologia como parte da expressão artística é a grande mudança que chegou com a evolução. Essa relação entre arte e tecnologia acompanha a história da humanidade, mas hoje as possibilidades de criação são tantas que é difícil estabelecer a fronteira entre uma e outra.

Podemos observar no teatro no trabalho do diretor e ator Bob Wilson, como ele faz seu teatro pós-dramático utilizando de recurso técnicos para seu trabalho, ultilizando luz, efeitos visuais para dar maior expressionismo à sua arte.

http://www.youtube.com/watch?v=PYDZj8kZq_A

“Uma das tarefas mais importantes da arte foi sempre a de gerar uma demanda cujo atendimento integral só poderia produzir-se mais tarde. A história de toda forma de arte conhece épocas críticas em que essa forma aspira a efeitos que só podem concretizar-se sem esforço num estágio técnico, isto é, numa nova forma de arte. (…) Toda tentativa de gerar uma demanda fundamentalmente nova, visando à abertura de novos caminhos, acaba ultrapassando seus próprios objetivos.” Walter Benjamin em A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica.

Caroline Dominguez

A MÁQUINA DE ESCREVER

A máquina de escrever sem dúvida foi um dos marcos importantes no que diz respeito a história e ao desenvolvimento da tecnologia da escrita. Um dos primeiros motivos do seu surgimento no final do século XIX foi a necessidade de facilitar a comunicação com pessoas cegas, outro motivo também era a necessidade de obter rapidez na escrita, criando-se assim um teclado para escrever. Na primeira metade do século XX, as máquinas já eram mais desenvolvidas e sofisticadas, com o seu processo de aperfeiçoamento, ela foi ganhando espaço e tornou-se indispensável nos setores comerciais e de serviços em geral, contribuindo assim para o desenvolvimento econômico e social. Outro fato interessante é que a máquina de escrever foi um instrumento importante para a inserção da mulher no mercado de trabalho, assim também como novas oportunidades de emprego com a criação do curso de datilografia para o uso das máquinas de escrever.

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Esta é uma imagem de um cartão postal do século XX, a frase “Ocupado com uma typewriter” é de duplo sentido e com um certo humor, já que a palavra typewriter na época significava tanto máquina de escrever como datilógrafa.

Nos anos 70 e 80, ter um curso de datilografia era um pré-requisito, um diferencial para se conseguir um bom emprego, a máquina de escrever realmente foi um sucesso, e hoje na era da informática ela é um instrumento obsoleto e quase que desconhecida pelos jovens, pois tornou-se peças de museus ou antiquários, depois de mais de 200 anos tornou-se também objeto de admiração, curiosidade, colecionismo e até mesmo de arte.

http://www.youtube.com/watch?v=zAi7cSVKXfI

Outra coisa que ficou de “herança” das máquinas de escrever para a era da informática, dos computadores, foi o teclado, isto é, até o momento em que ele for totalmente substituído por outra tecnologia.

A mecanização do ato de escrever facilitou muitas tarefas, agilizou a execução de trabalhos e foi muito importante na comunicação, mas isto não quer dizer que extinguiu a escrita à mão, a caligrafia e a importância dessa escrita, assim como a máquina fotográfica não acabou com a pintura. O que acontece e sempre vai acontecer é que a tecnologia vai estar sempre se aperfeiçoando e criando coisas novas, tornando as outras cada vez mais raras, assim como aconteceu com a máquina de escrever.

 Suéllen Dias

Da Fotografia ao Cinema.

2º texto.

Hà séculos que muitos tentam captar o mundo, seja em pintura, escultura  ou qualquer outro tipo de arte. Com o aparecimento da fotografia, os artistas conseguiam captar a realidade mais facilmente. Contudo eram imagens paradas, sem movimento, tendo a mesma utilidade que uma pintura, apenas uma imagem.

A fins do século XIX e inícios do Séc XX, houve uma evolução que revolucionaria as artes, a tecnologia e até mesmo a política, aparecendo a primeira camera de video. Esta novidade atraiu muitos curiosos que pensavam que apenas veriam um slide de imagens. Estes pequenos clípes criaram um grande furor nas audiências, e em alguns casos “pânico”, como por exemplo, na estreia da película “Arrival of a Train at La Ciotat” dos irmãos Lumière, em que ao ver o comboio a aproximar-se cada vez mais da camera gerou-se pânico na sala de cinema.  Esta evolução tecnológica e artística permitiu captar o mundo, a sociedade e tudo em seu redor, com movimentos naturais, dando uma perspectiva completamente diferente a quem está a vê-la num ecrã. Anos foram passando e o cinema foi evoluindo, de filmes mudos, introduziram o som, não das musicas, mas sim da fala, do espaço e da natureza presente. Mais tarde com o aparecimento da imagem a cores, houve uma melhor noção e caracterização da realidade em si. O facto de conseguir captar imagens do quotidiano, da natureza com as suas cores reais e com movimento é uma evolução extraordinária para as artes, porque o cinema conseguiu fazer o que a fotografia não conseguiu, que foi criar movimento nas suas obras, conseguir uma profundidade, uma perspectiva muito maior, e um ângulo aberto que abrange os 360º.

A perspectiva o ângulo e a profundidade foram as principais inovações do cinema, que conseguiram transmitir uma imagem real do real, coisa que parecia impossível para alguns,  apareceu a frente deles num ecrã gigante como se fosse uma abertura na parede e conseguissem ver a realidade como por uma janela.

Pedro Melim

Sujeito ininterrupto

Pensar o “eu” é pensar o “outro” ao qual desconhecemos, a partir de questionamentos que projectamos acerca das crenças, valores e hábitos que nos são comuns. O “eu” é ponto de partida para uma relação com outrem, e finitude para o resultado desta mesma relação.

Segundo Levinas podemos assumir duas perspectivas em relação as reverberações do conjunto de coisas que se vivificam em estatutos do eu. A construção de um sentido de si  é uma projecção que estabelece-se acerca de um “indivíduo potencialmente outro” e um “indivíduo absolutamente outro”. Ele aponta-nos o pão, ou a paisagem que contemplamos como alteridades que são incorporadas em uma identidade de possuidor. Logo potencialmente outros.“Dessas realidades, posso ‘alimentar-me’ e, em grande medida, satisfazer-me, como se elas simplesmente me tivessem faltado.” (LEVINAS, 1980, p. 21)

Nesta afirmação, poderíamos pensar nos dispositivos digitais como indivíduos potencialmente outros, em que o ser humano projecta-se em uma noção de possuidor e incorpora-o em uma noção de identidade. Mas no entanto e o “absolutamente outro?

O absolutamente outro não é mais o ser humano sujeito do encontro com o sentido da diferença de uma ontologia existencial. Mas antes um sujeito digital conjugado e/ou remediado pelos dispositivos tecnológicos. Um ciborg acoplado as suas próteses e identidades digitais em constante conectividade. As características singulares deste novo sujeito da contemporaneidade modificam os processo de construção e auto-avaliação do “eu”, criando inevitavelmente um ciclo em que o próprio sujeito torna-se mercê do dispositivo técnico, em um movimento constante de relações mediadas.

O “eu” não repousa em sí como forma final de perspectivar-se, mas esta interseccionado em um movimento que projecta-se sempre na relação com o outro delimitada pelo mediação do aparato técnico. Sherry Turkle referindo-se as projecções do sujeito pauta-se em uma das mais notáveis mentes dos últimos tempos, Michel Foucault, para ilustrar-nos a alienação do eu através do conceito de tecnologias do sujeito. Sublinhando algumas práticas como a oração, e a confissão  Sherry explicita-nos o esvaecimento da auto-construção do sujeito. O sentido de si próprio projecta-se para fora e não para dentro, e esta projecção limita a relação consigo mesmo. O “eu” está sempre ligado aos outros e nunca ligado a si próprio.

Ao mesmo tempo que a conectividade labuta em um espaço e uma intimidade delimitada ela consegue construir uma noção de identidade através de avatares. O paradoxo entre o estar junto e estar sozinho é uma variável proeminente nesta discussão  Restando estabelecermos a fronteira entre qual a limite e a distância entre a viabilização do meio em detrimento ao contacto e a relação física com o “outro”.

Tecnologias que já fazem parte de nós

Tema de escrita: Em que medida os dispositivos são extensões psíquicas e emocionais do nosso corpo?

Vivemos num mundo rodeado de novas tecnologias, que ao longo do tempo se foram tornando cada vez mais próximas de nós. Cada vez com mais frequência fazem parte integrante da nossa vida, já não nos afastamos por muito tempo de certos dispositivos. Estes aparelhos, estão sempre presentes nas nossas vidas, na minha opinião, que faço uso deles, estão ligados a nós de uma forma,  demasiado permanente  e talvez exagerada. Não é com facilidade que nos afastamos de certos dispositivos pois, nos dias que correm já não conseguiríamos viver da mesma forma sem que estivessem presentes. Funcionam quase, ou mesmo como um acessório banal.

Certos dispositivos, estão ligados a nós tanto de uma forma psíquica, como de uma forma emocional, funcionando como extensões do nosso próprio corpo. Sem os quais já não viveríamos e sem os quais nos sentimos inseguros, como se algo nos faltasse. Com o passar do tempo e à medida que fui crescendo e me fui deparando com estes novos aparelhos percebi, que nos deixámos de preocupar com as chaves de casa que ficaram esquecidas em cima do armário, ou o relógio que trazemos sempre connosco, para nos preocuparmos por exemplo com o telemóvel.  Na minha opinião, é a nossa verdadeira extensão, é o aparelho que faz parte de todas as horas do nosso dia e do qual já não nos separamos, e que de certa forma nos confere confiança. Falo no meu caso, sinto-me muito mais segura com o telemóvel ao meu lado, tanto de dia, como de noite, quando estou a dormir, porque se eu precisar de alguém ou vice versa, nomeadamente no que que toca a família e amigos, a comunicação é rápida e fácil. O aparelho até pode andar arrumado todo o dia e até pode nem ter grande utilidade, mas só o facto de estar perto de mim deixa-me mais calma.

Mas certamente não sou a única com este “problema” se assim lhe podemos chamar, são milhões de pessoas que não vivem sem estes dispositivos nos dias que correm. Andam carregados de tecnologias, levam o seu computador pessoal para todo o lado; viagens, para as aulas na universidade. Temos também o exemplo do tablet, que já faz de certa maneira o papel do computador, e mesmo o telemóvel, que é o dispositivo que vemos com mais frequência e com o qual podemos fazer milhares de coisas, com uma série de aplicações que foram criadas, onde já temos presentes as redes sociais, noticias, meteorologia, entre muitos outros divertimentos.

Certamente que o dispositivo mais usado será o telemóvel e vejo isso através dos meus amigos e da minha família  digamos que é um aparelho de gerações, dos mais pequenos, que o começam a usar com oito ou nove anos, pois os seus pais sentem-se mais calmos ao comunicarem com as crianças, os adolescentes que trocam mensagens com os amigos de forma rápida e permanente e mesmo a geração mais velha que já aderiu a esta nova tecnologia. Tenho o exemplo da minha mãe e do meu padrasto, que são aquela geração que viveu quase desde sempre sem este dispositivo, mas que agora, tal como nós, mais novos e tecnológicos, sentem-se inseguros sem eles. Na minha família todos nós levamos o telemóvel para todo o lado e estamos sempre a comunicar permanentemente. No caso da minha família  é algo que acho surpreendente, pois, são pessoas adultas que se tornaram adeptas deste dispositivo e sem se aperceberem o telemóvel transformou-se numa extensão dos seus corpos, tanto emocionalmente como de forma psíquica,  hoje já não vivem sem ele e tal como eu, permanece sempre com eles, tanto de noite, como de dia.

Podemos então constatar que esta pergunta está seguramente respondida  pois todos estes aparelhos, mais especificamente o telemóvel, mas também o computador ou mesmo o tablet tornaram-se as nossas grandes companhias, para onde vamos, eles vão connosco. A viajar, nas aulas, ou mesmo num café ou num banco de jardim um deles está presente e tem o papel de nos manter em contacto com o resto do mundo. Estas tecnologias são realmente extensões que nos acompanham todos os dias, já são algo comum nas nossas vidas.

Marta Veloso

A reprodução tecnica da obra de arte

Com o surgimento e expansão da comunicação em massas da arte e da cultura, a Internet  tornou-se uma ferramenta poderosa tanto para aqueles que a utilizam como principio de trabalho, quanto para aqueles que através dela tiveram ou têm o comprometimento  do mesmo devido a rápida reprodução artística.

O filosofo Walter Benjamin em seu texto “A Obra de Arte na Época de sua Reprodutibilidade Técnica”, diz que a autenticidade de uma obra de arte está directamente relacionada com o fato dela ser única e carregar em si a “aura”, pois é a partir dela que temos a história das origens artísticas e do próprio artista. Esta obra possui uma singularidade que não pode ser recriada novamente, mas sim reproduzida. Por mais perfeita que seja a reprodução, esta perde a sua “aura” (o aqui e agora) da obra de arte, de sua existência única e o seu testemunho no lugar em que se encontra.

As novas tecnologias permitiram a reprodução em massa facilitando  o acesso ao público a diversas manifestações artísticas. Contudo essa reprodução feita pela máquina gerou uma massificação e falsificação. Uma obra quando reproduzida perde sua “aura”  ganhando outro sentido,  isso acaba por desvalorizar o autentico.

Temos por exemplo, as infinitas cópias de CD´s que gerou a grande problemática da pirataria, e inúmeros sites para baixar músicas e Videos em diversos formatos, tomam a cada dia mais espaço. Vemos dois pontos importantes que é a acessibilidade e a rápida propagação artística e por outro lado temos um desprezo ao produto original.

Esta cultura digitalizada está disseminada na sociedade que utiliza das tecnologias para expandir-se. Podemos assistir a uma peça de teatro, filmes e DVDs online sem sair de casa, temos o acesso  novamente através da internet, com isso podemos futuramente ter uma minoria de pessoas deslocando-se para teatros, cinemas e show.

Dentre as diversas áreas artísticas, na música temos as peças de óperas e concertos de grandes orquestras que também são reproduzidas, entretanto por mais fiel que seja a reprodução e a qualidade da câmara  os meios tecnológicos ainda não são capazes de reproduzir o momento do agora, pois olhar da câmara não pode traduzir sentimento para o espectador/publico no momento.

Em virtudes dos fatos mencionados, acredito que a reprodução faz parte do meio cultural, bem como a capacidade surpreendente de criar o novo, de criar novas respostas ou reinventa-las, rompendo com aquilo que era imitado ou reproduzido até então. O homem tem a capacidade de recriar culturalmente fazendo despertar seus sentidos ainda não descobertos.

Niely Freitas

Um futuro virtual

Tema de escrita: O que são as tecnologias do sujeito?

As Tecnologias do Sujeito, conceito desenvolvido por Michel Foucault, são práticas – que podem incluir objectos tecnológicos ou não – que permitem ao individuo construir uma nova identidade. Isto resolveria todos os problemas de auto-estima do Ser Humano, que atingiria um estado de perfeição à sua maneira. As tecnologias de comunicação podem ser consideradas tecnologias do sujeito e um exemplo são as redes sociais, nomeadamente o Facebook.

Ao encontrar esta imagem relacionei-a de imediato com as ideias que foram desenvolvidas na aula. Nela podemos ver representada a evolução do Ser Humano segundo Darwin, que culmina no logótipo do Facebook. Nesta imagem, eu vejo a nossa próxima (ou actual  etapa de desenvolvimento projectada num sujeito digital. A verdade é que cada vez mais, desde a terna idade, o indivíduo cresce num contexto em que tem ao seu dispor tecnologias digitais que manuseia facilmente, as quais integra na sua vida quotidiana, o que pode causar o seu isolamento ao longo da sua fase de crescimento e habituá-lo apenas a um mundo virtual. Este factor pode formar um sujeito essencialmente digital, ou seja, alguém que está habituado a comunicar mediado por um dispositivo e sob uma determinada personalidade que, consequentemente, vai dificultar o confronto do individuo com a realidade, restringindo o seu desenvolvimento a esse nível. Para além disso, Sherry Turkle alerta também para os perigos da conectividade permanente, que envolvem o sujeito digital em fantasias como, por exemplo, a ausência de solidão ou o controlo das relações humanas, ideias utópicas que se julgam concretizadas nestes dispositivos e por isso são preferidos à comunicação presencial.

Esta pode ser a futura geração, que praticamente não comunica com as pessoas que a rodeiam, mas sim com um dispositivo que a ligará a alguém a quilómetros de distância. É um fenómeno actual – hoje em dia, já não há muitas conversas com desconhecidos nos transportes públicos, e até em acções quotidianas, como ir às compras, acabamos por preferir lidar com máquinas do que com Seres Humanos. O sujeito passa a ser um corpo que navega pela cidade junto a um dispositivo que o multiplica virtualmente, onde assume várias identidades exigidas pelos espaços digitais. Deixa de existir pressão social e podemos ser aquilo que desejamos sem nos reprimir. Se não estivermos satisfeitos connosco, criamos outro perfil. As soluções são fáceis e automáticas, não exigem uma introspecção que ajude o sujeito a melhorar-se na realidade, apenas a criação de uma nova personalidade digital.

Este pode ser um cenário futuro negativo para uma geração que cresce rodeada de tecnologias e forma-se a partir desses dispositivos. Sherry Turkle é um exemplo de alguém que acompanhou o crescimento deste contexto e que teorizou as suas vantagens e desvantagens, alertando-nos actualmente para um futuro em que a relação existente poderá ser apenas entre o Homem e a Tecnologia. No entanto, o individuo ainda não se resume a esta experiência e a voz do passado – como quem diz, os nossos pais e avós, não tão habituados a este mundo – alerta-nos diariamente para a necessidade de não passar tanto tempo com «essas novas tecnologias». A questão que podemos colocar é se esta voz vai permanecer num contexto em que a geração anterior forma-se com este meio já integrado na vida quotidiana.

Tatiana Simões

(link da imagem)

“Internetês”

Ao longo dos tempos o ser humano procurou maneiras para facilitar a comunicação e utilizou-se de meios como a escrita para registrar e  comunicar-se de acordo com suas necessidades.

A era da informática revolucionou os tempos com a velocidade das informações, criou um mundo virtual com suas particularidades e conquistou seguidores que inovaram a grafia tradicional. A internet modificou as relações entre os indivíduos e gerou novas formas de comunicação que possibilitaram uma modificação na ortografia formal das línguas. Esses novos códigos chamado em português de “internetês” é uma nova forma de escrita por meio da internet ou de outros meios tecnológicos que buscam aproximar-se o quanto maior possível da língua falada.

Considerado como um tipo de escrita abreviada que foi se padronizando conforme o aumento da conectividade entre os jovens através das: salas de bate papos, blogs, MSN, facebook entre outros, o “internetês” se popularizou na comunicação virtual, seus códigos se tornaram cada vez mais usados no mundo.

Acredita-se que essas praticas tenham sido desenvolvidas devido a velocidade exigida pelo mundo globalizado. Contudo, há quem assegure que as pessoas abreviam na internet por ter o desejo de pertencer a um grupo, podendo adaptar a sua escrita a linguagem da comunidade que deseja fazer parte.

O uso desta escrita permanece gerando discussões com relação à utilização dessa grafia, uma vez que muitos acreditam que esta pratica pode comprometer a escrita formal e assim prejudicando o desenvolvimento dos alunos em sala de aula e do jovem no mercado de trabalho.

Assim sendo, é necessário que haja um cuidado com o uso dessa escrita, visto que a utilização da mesma fora do ambiente virtual pode ter consequências prejudiciais para os adeptos dessa ortografia.

                                                                   

  Rodrigo Sá

É permitido?

A noção de permissão dos dias atuais mudou muito. A noção de permitir-se ao outro. Ao ler os conceitos de Turkle e refletir um pouco sobre eles, sou levada a pensar que o meio digital, como quase tudo na vida, tem seu lado positivo, mas também pode acarretar em uma série de problemas que não tínhamos antes. Da mesma maneira que o surgimento do mundo digital alterou a linguagem (dicionários atuais contém as expressões surgidas a partir da Internet) , alterou também -e muito- o comportamento humano. Somos induzidos a nos isolar mais e mais a cada dia do contato físico para estabelecer os contatos virtuais. A pergunta que fica é: com quem realmente nos relacionamos? com a maquina, ou com o ser humano do outro lado da conexão? Em principio podemos supor que a questão é muito lógica e simples, quando na verdade é muito mais complexa do que se imagina. Muitas pessoas não tem essa clareza, ou nunca pararam para pensar sobre o tipo de relação que estão estabelecendo com o mundo virtual,  nem mesmo sobre o que estão perdendo ao valorizar mais essa forma de comunicação do que a presença física.

Acredito que a dificuldade sempre esteve no equilíbrio das coisas, fato que sempre faltou muito nos seres humanos. Não sabemos dosar nossas práticas e acabamos por vezes, substituindo umas pelas outras, o que com toda certeza, é prejudicial. A tecnologia virtual é um dos grandes ganhos da humanidade, o problema está na proporção que ela assume na sociedade, como é usada, e principalmente, no que anda substituindo: as relações presenciais (físicas).

Poder relacionar-se virtualmente não substitui o afeto físico. Dizendo isso, temos algo a ser seguido: não podemos substituir uma coisa pela outra, mas, a questão é: o ser humano está preparado para entender e viver essa dicotomia entre virtual e presencial? realmente damos conta de não substituir uma pela outra? Somos orientados e educados para a busca deste equilíbrio?  Na minha opinião não.

O que acontece hoje são pessoas que não se permitem a conversar com quem está próximo porque estão muito ocupadas em suas bolhas conversando com alguém que não está ali de fato. Perdemos muito do real para o virtual. Só temos “permissão” de conhecer pessoas novas em situações do cotidiano quando uma tragédia acontece, quando algo quebra (ou fura) nossas bolhas para que pela primeira vez, realmente percebamos o mundo real a nossa volta.

São realmente muitos problemas, mas penso em nós, estudantes, integrantes desta disciplina, o que faremos uma vez que nos foi dada todas as ferramentas para criarmos senso crítico sobre a situação? A escolha é nossa, continuamos seguindo o modelo da ignorância ( no sentido de não conhecer uma realidade)  ou podemos nos posicionar diferentemente daqui em diante sobre todas as questões aqui levantadas… eu já escolhi… escolham!!!

Carolina França

“Aldeia Global”

Ao passar do tempo  e com avanço da tecnologia é imprescindível que não percebamos as mudanças na sociedade. Temos uma cultura globalizada aonde não há barreiras entre o tempo e o espaço. O canadense Marshall McLuhan chamado “filosofo da era electrónica , em sua obra “Understanding Media”, descreveu a existência de quatro eras sendo: a “Era Tribal” caracterizada pela multisensorialidade e envolvimento próximo, a “Era da Escrita” favorecendo a visão, a “Era da Imprensa” com o aumento da propagação da informação e a “Era da Tecnologia” tendo uma sociedade informatizada.

McLuan acreditava que era fundamental a evolução na comunicação, por isso considerou que qualquer invenção dos novos médias  seriam extensões da faculdade  humana,  sendo estes uma parte sensorial  do corpo, e o circuito eletrônico como  parte central do sistema nervoso. Marshall afirmou em sua teoria que as mudanças especificas na comunicação moldaram a existência humana e criou o conceito de “aldeia global”  descrevendo o efeito da rádio nos anos 20. Este termo esta ligado ao avanço tecnológico que ajudou e modificou a comunicação entre as pessoas diminuindo o espaço e o tempo entre regiões, provocando informações em massa sobre a sociedade contemporânea.

Podemos perceber que a globalização nos condiciona a vivemos nesta  aldeia virtual como se fossemos reféns de um sistema de informações que circulam e desaparecem em pouco espaço de tempo, nos colocando sempre a utilidade de algo, mesmo que não precisamos. As grandes invenções sempre estão automatizando tudo para que tenhamos rapidez e o conforto para fazer algo.

O fato é que atualmente percebemos que o conceito de “aldeia global” tem se ampliado cada vez mais. O ser humano perdeu o sentimento de tribo e interação de a proximidade que havia com a fala e tornou-se um homem individualista com a escrita e a informação impressa. A internet tem mudado os modos de comportamentos pondo todos os nossos sentidos em jogo.

Com isso, acredito que as transformações na sociedade e as mudanças no comportamento do individuo, implicam diretamente na educação de hoje e futura dos jovens. Temos acontecimentos simultâneos e informações sendo compartilhadas a todo instante no mundo inteiro, fazemos parte desta aldeia globalizada e não temos como fugir, mas não devemos esquecer que por mais evoluída que seja a máquina ela não substitui o outro, somos seres humanos sendo automatizados, contudo nenhuma tecnologia é capaz de reproduzir o sentimento humano.

Niely Freitas

Aura Umbilical

No seu ensaio, The Work Of Art In The Age Of Mechanical Reproduction (1935), o filósofo alemão Walter Benjamin define aura como o capital simbólico da obra de arte. Formam-no as marcas de autenticidade e singularidade que advêm do rasto deixado pela sua origem e contexto histórico. O anúncio da perda desse capital simbólico é associado à emergência da reprodução mecânica/técnica e respectiva queda da reprodução manual. A primeira (por exemplo através da fotografia a partir do século XIX) destaca-se por ser mais veloz que a segunda (o bronze é uma das hipóteses), o que permite uma intensificação do processo. Com o cinema sonoro passa a ser possível fixar as imagens em simultâneo com as palavras do actor e aumenta o grau de presença.

O que Walter Benjamin argumenta é que “o aqui e agora do original encerra a sua autenticidade” e a isto está alheia a qualidade da reprodução da obra de arte. Por mais perfeita que seja, é desprovida de existência singular num só lugar, tempo e contexto. É no original (único) que está a vida, um percurso de alterações na estrutura física (quase inevitável pelo desgaste que a passagem do tempo significa) ou eventuais mudanças de proprietário.

A obra de arte parece, em certa medida, metaforizar a condição do ser humano – enclausurado no aqui e agora. Cabe à reprodução técnica divinizar o artefacto por intermédio da omnipotência que lhe imputa. Torna-se mais independente e livre a inserir-se em cenários e situações inviáveis ao original. No entanto, a mesma reprodução leva a obra de arte à queda do pedestal em que reinava como objecto sacralizado, ícone religioso. Nessa senda, ocorre uma massificação da arte e da cultura.

Encaminhando o texto para um pendor mais subjectivo, creio que é erróneo vincular o termo “massas” a um sentido pejorativo. A democratização e a acessibilidade generalizada do artefacto – enquanto representante da condição humana – propiciam um aumento de consciência à escala global. Os universos estéticos que em nós penetram são um método exímio de educação. A cultura e a arte são o pão e água da mente, um abissal contacto inter-humano que ascende a sobrevivência a vivência.

Ainda que a presença real perante o original seja de particular relevância quando lidamos com pintura, escultura e arquitectura (visto que o conteúdo único e central é, demarcadamente, o próprio material) ou teatro (a relação entre actor e público é uma premissa fundamental), a cópia tem o seu emprego, seja complemento ou substituto (um bem menor quando é impossível aceder à fonte).

Num outro espectro, não penso que o problema da reprodução esteja no desvincular do contexto histórico. Pelo contrário, por via dela, há uma libertação da obra, o que alarga a nossa área de interpretação. Algo que, em princípio, só será negativo para um historiador de arte… De qualquer modo, um artefacto, para os nossos sentidos, acarreta sempre um significado duplo: o da criação e o do período da reapreciação (relacionamos os dois de imediato e de forma inconsciente). A ideia da sua origem dependerá mais do nosso conhecimento histórico do que da sua experiência ao vivo.

A aura? Desvanece? Opino que é reprodutível, contudo uso o termo numa acepção diferente. Considero que o original concebe auras descendentes e que a proximidade maternal é determinada pela qualidade da cópia. Todavia, a semelhança não é uma necessidade para manter no artefacto um espírito. Em detrimento de um fac-símile, existe a chance de paródia ou de recombinação, por exemplo. Mais ou menos distante da sua genealogia, haverá uma aura envolvente. Mais ou menos evidente, nela pairará um traço umbilical.  Analogia com a lei de Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

A chave para o éter está na experiência individual, na exequibilidade de extrair da obra uma emoção estética. Um vai conhecê-la no quarto, outro numa viagem de automóvel, alguém num parque. Todos vão gerar um artefacto distinto, mas essa inevitabilidade é não só inerente a uma (inarredável) consciência exclusiva, mas também à ambiência do local em que se encontram ou inclusive ao período do dia. Inventamos miríades de contextos, exploramos diferentes ângulos mentais, trocamos e somamos ideias acerca de certa pintura.

Na sua faceta negativa, os museus encarceram a obra de arte num espaço, numa conjuntura, numa dada iluminação e em horários. Assim, até eles a retiram do seu âmbito de criação, fazem dela uma peça constituinte de um catálogo. São um vidro invisível de mediação.

No panorama da reprodução digital prevalecente na actualidade, o maior risco será a sobrecarga informativa e subsequente baixo limiar de atenção (passagem de objecto em objecto sem o devido devotamento). Contraponho com o jogo de escala praticável (podemos contemplar detalhes) e, acima de tudo, com a exposição contínua ao artefacto. Para mim, pelo menos, anos de relacionamento com um holograma superam um só e isolado momento presencial. Crescer com a obra, com a sua dimensão universal e multifacetada é conhecê-la melhor e, pelo seu eco, a nós próprios e ao mundo.

Francisco Silveira

Imediacia e Hipermediacia: do meio oculto ao meio revelado na pintura

 

“O que há de mais real para mim são as ilusões que crio com a minha pintura. O resto são areias movediças.”

(Eugène Delacroix)

  

Uma afamada lenda, contada por Plínio, o Velho, descreve uma disputa entre dois pintores gregos, Zêuxis (464 – 398 a.C.) e Parrásio (470 – 400 a.C.). Zêuxis pintava frutos com tal precisão que iludia até mesmo os pássaros, estes, vinham até diante da pintura tentar bicá-los. Parrásio, dizendo ser um melhor pintor, apostou que enganaria seu rival – convidou Zêuxis para ir até seu ateliê onde, supostamente, estaria uma pintura ocultada atrás de uma cortina. A curiosidade de Zêuxis em ver a pintura o fez tentar levantar o tecido que a ocultava. Mas, neste exato momento, ele percebeu que o tecido não era real; tratava-se de uma pintura feita sobre a parede, tão perfeita que enganou seus olhos.

De fato, das pinturas realistas de Zêuxis e Parrásio só restaram lendas. Mas os conceitos de imediacia e hipermediacia, propostos por Bolter e Grusin no livro Remediation: Understanding New Media (1999) podem ser elucidados a partir desta narrativa.

A imediacia pode ser entendida como um desejo de se aproximar da realidade, através da ocultação da presença do meio que cria a representação. Na hipermediacia o espectador percebe o meio utilizado para a representação. Ambas são elementos da remediação que, em síntese, é a evolução ou renovação das tecnologias, que se apropriam da tecnologia anterior para criar algo novo que cumpra as mesmas funções, mas de forma melhorada.

Salvo raras exceções, a quebra de tal desejo por uma representação realista na pintura surge somente ao final do século XIX com os impressionistas, as vanguardas que os sucederam elevaram tal iniciativa ao extremo.

Imediacia

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William-Adolphe Bouguereau – Flagellation of Our Lord Jesus Christ (detalhe), oil on canvas / 212 x 309cm,1880.

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Taner Ceylan – Spiritual, 140x200cm, oil on canvas / 2008, Private Collection.

Hipermediacia

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Claude Monet – The Beach at Trouville, 1870.

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Claude Monet – The Beach at Trouville (detalhe), 1870.

Podemos dizer que o desejo de representação do real sempre acompanhou o homem, não só na pintura e escultura, da Renascença até a Pop Arte – com Hiper-realistas, mas também nas diversas tecnologias de captação, apresentação e recriação da imagem, quase que seguindo os dizeres de Leon Battista Alberti (1404-1472) ao comparar o quadro a “uma janela aberta para o mundo”. Exemplos de meios que surgiram buscando simular a realidade são vários, da pintura à fotografia, do cinema até as filmagens em 3D. Atualmente os meios digitais, como os jogos (videogames) e a realidade virtual, são a prova de que tal desejo ainda não se esgotou.

 

Evandro Santos

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Referências:

BOLTER, Jay David; GRUSIN, Richard – Remediation: Understanding New Media. Cambridge, Massachusetts: MIT Press, 1999.

HIPER-REALISMO. Disponível em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=329

PARRÁSIO DE ÉFESO. Disponível em http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Parasio0.html

ZÊUXIS. Disponível em http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/Zeuxis00.html

Marshall McLuhan: o meio é a mensagem

Na década de 1960, Marshall McLuhan apresentou suas teorias, um tanto quanto visionárias, acerca das tecnologias. Para o autor, os meios tecnológicos são uma extensão do corpo humano que ampliam as capacidades do homem, ou dos próprios sistemas e instrumentos criados pelo homem, para além de si. Por exemplo: a roda seria uma extensão das pernas, a roupa seria uma extensão da pele, e etc.

Vale dizer que os próprios meios tecnológicos não se detêm em suas formas físicas, materiais. O alfabeto, que seria uma extensão da linguagem humana, neste caso, teria posteriormente sua capacidade expressiva ampliada através dos meios impressos. Meio e mensagem manifestam-se em simultâneo ­- o livro contém a palavra impressa, que contém a escrita, contendo o discurso, e assim por diante. Neste exemplo podemos entender que “o conteúdo de um meio é sempre outro meio” e nele encontramos uma mensagem.

O meio é qualquer extensão de nós mesmos, do nosso corpo ou mente ou sentidos. Noutras palavras, um meio é qualquer coisa a partir da qual surge uma mudança. Sendo assim, a mensagem não pode ser simplesmente reduzida ao conteúdo ou informação que o meio veicula, pois, desta forma, excluiria a sua mais importante característica: o poder de mudar, moldar e influir nas relações e atividades humanas. É ai que encontramos a máxima de McLuhan, sua famosa e controversa frase: “o meio é a mensagem”.

É difícil encontrarmos ou definirmos uma formulação concreta para tal conceito, mas, após dizer que o “meio é a mensagem” em seu livro Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem, McLUHAN (2002) segue dizendo que “isto apenas significa que as consequências sociais e pessoais de qualquer meio – ou seja, de qualquer uma das extensões de nós mesmos – constituem o resultado do novo estalão introduzido em nossas vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nós mesmos”.

O fato é que nem sempre percebemos a interface entre os diversos meios de comunicação e seus efeitos sobre nós, suas intervenções nas sociedades ou culturas, pois tendemos a pensar o conteúdo de qualquer mensagem como algo menos importante do que o próprio meio. Segundo SANTAELLA (2003), “considerar que as mediações sociais vêm das mídias em si é incorrer em uma ingenuidade e equivoco epistemológicos básicos, pois a mediação primeira não vem das mídias, mas dos signos, linguagem e pensamentos, que elas veiculam”.

Na obra de McLuhan, e sua perspectiva sobre os «medias» sociais, é possível ver algo de profético. Antecedeu o advento de meios que hoje se manifestam como uma realidade global, diferentemente da sua época, hoje a interatividade dos multimédias, dada a velocidade do avanço tecnológico, são assustadoramente superiores e se tornaram verdadeiramente extensões físicas e psíquicas do homem, verdadeiros universos existenciais. Temos como exemplo maior a internet. Poderíamos dizer que, em nossa realidade atual, sem dúvida, o meio é a mensagem.

As condições e alterações propiciadas pelo meio, as quais todos os indivíduos estão submetidos, geram mudanças não só no nível de socialização e comunicação, como também, e principalmente, no estilo de vida de cada um. McLuhan nos deixou um quadro teórico que nos permite estudar e compreender a real natureza meios de comunicação, que revolucionaram toda a história da humanidade.

Evandro Santos

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Referências:

MCLUHAN, Marshall – Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem (Understanding Media).12ª ed. São Paulo: Cultrix, 2002.

SANTAELLA, Lucia – Cultura das Mídias. 4ª ed. São Paulo: Experimento, 2003.

Metástase I: Opacidade e Transparência

Em um movimento subtil no dactilografar de uma máquina de escrever as palavras de Luiz de Camões permutam-se em palavras de Alberto Pimenta em meio a uma atmosfera que labuta no contraponto entre claro e escuro. Em uma dialéctica de desconstrução e reconstrução verso a verso, Joana Rodrigues propõem-nos uma reflexão acerca da remediação criativa, de modo a projectar-nos as diferentes potencialidades do meio digital, em rectificar as formas dos média anteriores.

Metástase I problematiza o conceito elaborado por Jay David Bolter e Richard Grusin de «remediação» através de um movimento retilínio uniforme que elucida o funcionar de uma máquina de escrever como alegoria de um dado medium em contraponto a um brotar estantâneo de letras que operam em concomitância a dinâmica da máquina, mas que apontam para as potencialidades da mediação digital. O espectador é apreendido em uma atmosfera de falsos paradoxos representacionais que apesar de assumirem conotações contrárias, veiculam uma formulação que estabelece um sentido por si próprio no âmbito dos “meios que remedeiam outros meios”.

Ou seja, Joana Rodrigues apresenta-nos um oxímoro da remediação que incorpora meios anteriores acentuando a diferença e incorporando outras formas oriundas do seu próprio meio. Assim como os audiovisuais de Vuc Cosik e os trabalhos pictóricos na história da representação em pintura como «Las Meninas» de Diego Velásquez e suas reverberações, como por exemplo a de Pablo Picasso, o referido trabalho apresenta-nos a apropriação de Alberto pimenta potencializada nas mãos de Joana Rodrigues através das características potenciais da remediação digital.

No entanto se colocássemos uma questão no âmbito das perspectivas que o termo «remediação» comporta, este trabalho estaria operando sob a ótica da imediacia ou hipermediacia?

Quando me refiro ao trabalho de Vuc Cosik, a relação que proponho ao mesmo comporta o diálogo que ele estabelece com os filmes da história do cinema como Eisentein, e não no sentido da hipermediacia através das representações numéricas como forma de figuração como ele propõem.

Metástase I, evoca dois mundos de representação distintos, onde explica o abismo estabelecido entre as cores preto e branco. Por um lado opera segundo uma lógica da hipermediacia, ou seja, a remediação digital assume um estatuto de opacidade mediante a características visíveis da maquina de escrever, por outro, o meio labuta através de uma noção de transparência mostrando toda sua potencialidade. Se analisarmos atentamente veremos que ao mesmo tempo que o som das “tecladas” envolvem todo o trabalho audiovisual, o preto que representa a parte que opera segundo a lógica da imediacia engloba grande parte do campo representacional.

O que propõe-se é veicular uma ideia de que esta obra apresenta um equilíbrio, em todas suas características formais, de maneira a contrastar estas três perspectivas problematizadas por Bolder e Grusin entre remediação, hipermediacia e imediacia. 

 

                                                                                     Pablo Pinho

 

O Conceito de Netspeak

O conceito de Netspeak surge perante o desenvolvimento das novas tecnologias de informação e a relação que estas têm com a necessidade de comunicar. A comunicação sempre foi imperial para o ser humano, assim surgiu a língua e um conjunto de processos de comunicação que permitem a interação entre seres humanos, desde que estes compreendam o que se tenta transmitir. É legítimo acreditar que a origem do conceito de Netspeak surge nos “primórdios” da interação entre indivíduos por meios de comunicação de massa. No entanto, foi com o surgimento das mensagens escritas e consequentemente com o limite de caracteres de cada mensagem, que a forma como comunicar por este meio foi alterada. Foram criadas novas formas de escrever cada palavra com o intuito de reduzir o número de caracteres.

No entanto, esta nova forma de comunicar propagou-se também a outras plataformas e criou mesmo novas palavras e expressões que passaram a ser utilizadas mesmo fora do contexto das novas tecnologias. Criou-se assim uma nova forma de linguagem e de comunicação, mais rápida, mas também muitas vezes apenas reconhecida por algumas camadas da sociedade, como por exemplo os mais jovens. Hoje, temos inúmeros modelos de aplicação do Netspeak, com o twitter a ser um excelente exemplo de limitação de caracteres que obriga a um uso, por vezes excessivo, de abreviações.

Assim, vejamos como o conceito de Netspeak se aplica nas expressões que se utilizam em fóruns, blogs, sites e comunicação por escrito.

U R teh best man! 
Don’t you mean “YOU ARE THE best, man”? 
That’s what I just SAID. DUH

Uh oh, I have to go answer the phone. BRB

i g2g to da stor 2day c ya l8er LOLZ

Como paradigma do que estamos a falar, surge o dicionário de termos abreviados, o Netspeak.

De igual forma surgem sites na Internet como o Noslang, com objetivo de traduzir o que é dito em “calão” informático, para que sobretudo os pais saibam o que os filhos escrevem quando navegam na Internet.

A questão que ameaça surgir, cada vez mais como um problema do que como uma alteração de linguagem, tem a ver com um facilitismo exacerbado que se expressa sobretudo na cultura juvenil. Este video, tem o intuito de parodiar a estupidez que está materializada na conduta de alguns jovens, e na procura destes pelo facilitismo na escrita.

Tiago Faria

 

O carácter site_specific do objecto no museu virtual

De certa maneira podemos dizer que todos os objectos de um museu virtual são site-specific. São objectos concebidos, montados, instalados ou convertidos em função do território virtual.

A dificuldade que esta classificação coloca reside no carácter descontextualizado do espaço virtual. É que, pese embora as implicações físicas e infra-estruturais (o terminal, o ecrã, a rede, o circuito integrado, etc.), o espaço virtual é um contexto que se define em simultâneo com o objecto que é exposto através dele. Donde a especificidade que contradiz a noção de território e de localização e que problematiza a noção de contexto.

Neste sentido podemos admitir que é a própria situação ou operação de deslocalização que constitui a especificidade do virtual. Mas, como adaptar este paradigma fundado na deslocação de um objecto no território a uma situação em que o território deixa de funcionar como plano de referência? Um território que pode ser também ele definido e redefinido deixa de contrastar ou dar sentido ao movimento de deslocação ou localização. É muito diferente deslocalizar uma fábrica para uma região onde os salários são mais baixos ou as leis ambientais mais permissivas do que deslocalizar uma empresa para um território virtual onde se pudesse modelar funcionários que vivessem apenas do amor à camisola e onde se pudesse programar um meio ambiente para a proteção do qual a legislação em vigor oferecesse o menor impacto possível à sustentabilidade empresarial.

A uma deslocalização que descrevesse mais adequadamente a situação do objecto e do espaço virtual poderia chamar-se alocalização. Não havendo talvez melhor justificação para esta designação que a de ter permitido instanciar, a posteriori, uma álea de aspectos do virtual por intermédio de uma permutação predeterminada pelo código. Esta alocalização permitiria alocar uma propriedade espacial ou contextual específica ao modelo virtual. Consistiria numa reserva de memória de operações de espaço ou contexto, ou melhor, em tornar disponível um espaço abstracto. Ou seja, não uma operação de localização que determina um lugar, coloca um objecto em determinado ponto de um território ou que circunscreve alguma coisa, mas uma operação de alocalização que determina, abre ou disponibiliza um espaço vazio, recursos e funções necessários para que possa ser instanciado não só o objecto alóctone ou nativo do virtual mas também a distância, a perspectiva, a escala, o código, o programa etc., que destaca esse objecto.

Em conclusão podemos dizer que enquanto o paradigma da deslocalização é estendido para além dos seus próprios termos graças ao desenvolvimento tecnológico, a aplicação do conceito site-specific já se encontrava prestidigitada no código.


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