Talan Memmott, Self Portrait(s) [as Other(s)] (2003).
O blogue DigArtMedia, tal como o programa de Introdução aos Novos Média a que está associado, acabou por ser, talvez inesperadamente, uma pequena experiência de ensino. De ensino como re-imaginação dos actos de comunicação que formalizam a aprendizagem em contexto escolar. Ao decidir integrar esta ferramenta no corpo do programa, como parte da reflexão colectiva sobre a mediação digital contemporânea, fi-lo sem saber exactamente o que poderia acontecer. É certo que tentei tornar o blogue não apenas parte integrante do acto pedagógico, mas algo que poderia interferir, até certo ponto, na forma do acto. Algo que acrescentasse à comunicação em sala de aula a possibilidade de individualizar os pontos de vista daqueles que, por força dos constragimentos institucionais que os reproduzem como professor e alunos/as, se vêem obrigados a encontrar-se a uma mesma hora a certos dias da semana durante algum tempo.
Este encontro forçado chamaria a atenção para um conjunto de objectos que caracterizam a tecnosfera em que vivemos e, ao mesmo tempo, construiria um vocabulário crítico para pensar os processos cognitivos, sociais e estéticos que nela se reconfiguram. Através do blogue, a realização daqueles actos de comunicação ficaria vinculada a uma prática de escrita partilhada enquanto extensão das interacções de cada um consigo mesmo que tornam possível a aprendizagem. Deste modo, a pergunta ‘como se aprende?’ parece poder voltar a formular-se, uma vez mais, nas suas múltiplas ressonâncias.
Aprende-se – e é isso que me voltam a dizer os textos escritos por vós ao longo destes quatro meses – através de uma interacção entre as representações de que dispomos para pensar e dizer o mundo (e para nos pensarmos e dizermos a nós mesmos) e as novas representações que vamos construindo por efeito da mudança que o mundo faz em nós enquanto passa o tempo que é estarmos nele. Substituímos representações por outras representações, e ao fazê-lo percebemos a condição intrinsecamente mediada da cognição e da afecção humanas. Aquilo que nos acontece está sempre além daquilo que conseguimos representar. Aprender é, de algum modo, experimentar a insuficiência das novas representações no próprio momento em que abandonamos as velhas.
Por outro lado, este processo de re-representação, que nos mostra os enquadramentos sucessivos dos esquemas com que julgávamos ter fixado uma imagem do real, não é possível sem o investimento afectivo que permite ao mundo surgir como um objecto. Quer dizer que tenho que entrar na linguagem que me faz ser de um determinado modo para que o objecto do meu olhar se torne representável enquanto tal. E é esse jogo, entre afecto e cognição, que este exercício de escrita partilhada (e espartilhada) torna de novo tão claro enquanto jogo essencial da aprendizagem.
Havia um conjunto de regras iniciais, é certo, mas também um espaço para redefinir pelo uso o sentido dessas regras. E foi justamente isso o que aconteceu: a pouco e pouco, os pontos de vista individuais foram surgindo, os seus ângulos particulares, os seus modos de representação, os seus interesses, os seus afectos, os seus desejos, os seus objectos. E nessa retroacção aberta entre a ferramenta de escrita e o desejo de comunicar, a experiência da aprendizagem parece ganhar algo da sua liberdade fundamental. E o mundo parece abrir-se, por instantes, a esse modo de curiosidade de quem não tem ainda uma linguagem para falar dele.
MP
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