Hiper-Imediacia

Os conceitos de imediacia e hipermediacia, desenvolvidos por Bolter e Grusin podem estar interelacionados embora provocando resultados desiguais. 
Se o meio está contido em si mesmo e pratica uma ocultação desse mesmo meio estamos diante da imediacia, em que a mediação exerce uma lógica de transparência capaz de absconder as suas componentes materiais tornando-as invisíveis ao seu utilizador. O espaço visual corresponde então ao espaço real. 

O contrário, onde é operativa a exposição do meio e da sua materialidade e exige uma interação mais presente do utilizador, corresponde à hipermediacia. 

Estes efeitos atuam em determinados meios como por exemplo na pintura, onde as técnicas de perspectiva permitem uma submersão sobre o que estamos a ver, tal como os jogos de luz e cor que permitem a formação de uma imagem que se transpõe para um espaço real. 

Mas se o processo criativo estiver perceptível e a própria pintura autônoma, sendo esta capaz de contrariar o realismo, podemos estar a favorecer a presença da hipermediacia e de uma transparência dos meios utilizados para a sua criação. 

Helena Bastos 

Cibereternidade 

É inevitável o reconhecimento da progressiva fusão entre a mecânica/tecnologia com a biologia, mas isso poderá constituir uma ameaça para a imagem de ser humano como conhecemos? 

As mutações tecnológicas constituirão uma perda de percepção existencial? 

Não podemos negar essa desconstrução humana, pois as correções genéticas estão cada vez mais presentes e consistentes, a tecnologia é capaz de se integrar em nós como complementos ao que a biologia não é capaz de sustentar por si mesma. A ideia de imortalidade humana através de mecanismos tecnológicos está em progresso, a Iniciativa 2045 prevê uma transposição do nosso cérebro para um avatar em etapas finais da nossa vida, tal como a possível existência de cérebros sintéticos capazes de conter a nossa personalidade e consciência. 

Estaremos a contradizer o natural através da cibernética? O nosso futuro poderá estar condicionado, poderemos atingir a posição de seres sobre-humanos capazes de manipular a sua própria genética. 

No entanto já é possível a inserção de dispositivos subcutâneos que nos liga diretamente a computadores, e não podemos negar que seja um processo gradual que culminará num corpo biotecnológico ou totalmente mecanizado. 

Mas não é correto adotarmos um olhar completamente negativo sobre a capacidade de transformarmos o nosso corpo, pois poderemos contrariar erros genéticos se conjugarmos os avanços tecnológicos com a medicina, que poderão conter efeitos positivos. 

Helena Bastos

Click

A invenção fotográfica não foi revolucionária na medida em que fixou através de fontes luminosas uma imagem permanentemente. 

Em oposição teríamos a pintura ao nosso dispor, mas por vezes de traços grosseiros e pigmentos que, combinados metodicamente apropriava o objeto observado e era transposto para a tela e lá permanecia, como um legado para a eternidade. Este era o método posterior à fotografia para gravar algo graficamente.
A fotografia, com o seu processo científico e respectivos aperfeiçoamentos permitiu algo mais. Um auto reconhecimento mais automatizado, algo que a pintura por si só não consegue alcançar, mesmo com a descoberta de técnicas mais revolucionárias, novos géneros como o hiper-realismo que com um tracejado quase imperceptível e um desenho mais concreto e de alta resolução se aproxima da fotografia mas não é suficiente.
Não é por acaso que este tipo de representação é progressivamente descartado na nossa contemporaneidade e é encarado exclusivamente como arte.
Esta necessidade particular de fixar imagens está presente em nós desde os tempos mais primitivos, numa tentativa de transpor o meio visual para um formato mais material.
Podemos considerar a fotografia como uma extensão da mente? Sim, se pensarmos na fotografia como uma oportunidade de dar fisicalidade às nossas memórias, em algo que o nosso cérebro não tem alcance a longo prazo, não temos armazenamento suficiente.
Somos estimulados, a nossa percepção ganha uma nova dimensão pois agora visualizamos com mais pormenor. 
Então, não fixamos imagens, fixamos momentos.
A fotografia permite o acesso a algo que nunca vivenciamos de forma corporal e presencial, essa é a outra face da fotografia. Somos de facto deslocados, experenciamos por via visual.
Nós permanecemos, os rostos são mantidos, os lugares inalterados, os detalhes são gravados, e assim estamos, detidos numa fração de segundo.
I used to think that I could never lose anyone if I photographed them enough. In fact, my pictures show me how much I’ve lost.”
—Nan Goldin
                                    Helena Bastos

Conexão vs Desconexão

Com a vulgarização do uso dos médias digitais, os seus respectivos reflexos no nosso quotidiano se acentuaram ao ponto de sermos induzidos a encarar o seu uso de forma inconsciente e intrínseca. Refletindo tal uso em grande parte na nossa formação de identidade e relação com o espaço exterior. No entanto, isto cria uma divergência, com uma utilização tão relevante vemo-nos obrigados a nos interrogar sobre a sua negatividade e positividade. O nosso quotidiano é extremamente digital, rejeitamos progressivamente o contato face a face por reconhecer a facilidade que os dispositivos nos oferecem. Mas isto não é inteiramente aplicável e universal, podemos estabelecer relações à distância e ao mesmo tempo não estarmos totalmente desligados daquilo que nos rodeia, não há uma verdadeira interferência. No entanto, escolhemos preferencialmente os formatos digitais para estabelecer ligações, somos arrastados para um universo totalmente digital. Estaremos a criar um entrave na nossa capacidade comunicativa com os outros? Não podemos negar os efeitos inerentes dos dispositivos que utilizamos diariamente, de forma quase que obsessiva e garantida por uma percentagem de bateria que depois de descarregada revela a nossa dependência com o mundo virtual. Apresentamos a este mundo identidades construídas, por vezes que não correspondem aquilo que realmente somos, vestimos uma capa para ser apresentada. Somos envolvidos pela quantidade de gostos e seguidores que obtemos nas múltiplas redes sociais que nos são oferecidas e que interiormente não entendemos realmente o seu propósito mas que nos faz participar ativamente. Deveríamos saber como usar a internet para que não seja ela mesma a utilizar-nos e tornar-se altamente manipuladora. Temos ao nosso alcance todo o tipo de mecanismos e informação e uma vez que existe esta predisposição devíamos escolher uma apropriação instrutiva, uma formação intelectual, um adquirir de conhecimento e alargamento dos nossos horizontes, de novas ideias, de desenvolvimento de criatividade. Sobre este uso as consequências negativas devem ser contornadas tentando extrair aquilo que é positivo. A digitalização não deve ser encarada como extremamente necessária na nossa relação com os outros e no reconhecimento de nós mesmos, mas também não podemos rejeitar totalmente a sua existência. A criação de um paralelo é importante para entender se estamos a utilizar corretamente os meios digitais. Não nos limitemos a nos expressar a partir de emoticons, escolhamos as vias de conversação que não sejam auto corrigidas instantemente e reformuladas por abreviaturas. A mediação digital precisa de racionalização.

Helena Bastos


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