Migrar para o ciberespaço

A história dos media começa com a imprensa de Gutenberg, seguida de um outro conjunto de media tradicionais, como a rádio e a televisão. A esta evolução juntaram-se, rapidamente, novas criações e desenvolvimentos tecnológicos que, devido à adesão do cidadão-comum, levaram os media tradicionais a procurar um lugar na Internet. Ou seja, os media tradicionais “foram obrigados a migrar para o ciberespaço”.

Se analisarmos o exemplo do jornal, o fenómeno da Internet repercutiu neste media dois resultados: por um lado, um fácil acesso à informação que subsiste nele, sem custos; por outro, diminuiu, em grande escala, o número de compradores do seu suporte físico, podendo este vir a desaparecer, devido à falta de compradores, ou mesmo deixar de existir, dado não haver lucros para pagar aos seus redactores. Além disso, a Web 2.0 autorizou a liberalização da publicação, permitindo ao cidadão-comum criar o seu próprio espaço de publicação, fazendo dele um leitor e editor ao mesmo tempo, o que banaliza a circulação da informação.

Este exemplo serve para mostrar o quão dependente da tecnologia se encontra a nossa sociedade. Vivemos num século “preso” às “máquinas”, nas quais jovens e adultos investem grande parte do seu tempo, salvo raras excepções.

Entramos assim, num campo controverso, pois até que ponto estar dependente de uma dada “máquina” é favorável ao nosso desenvolvimento? Eis a questão! Sherry Turkle, especialista em estudos sociais científicos e tecnológicos, psicóloga clínica e directora/fundadora de uma iniciativa no Instituto de Tecnologia do Massachusetts – MIT Initiative on Technology and Self, na qual se reflecte sobre a crescente relação do ser humano com as tecnologias – diz-nos: “we are vulnerable creatures. Our vulnerability is when we are asked to nurture another creature we bond, we connect.” Deste modo, actualmente, valorizamos mais o telemóvel, o computador, a Internet, o que revela que é difícil conseguimos estar sós, porque na verdade nunca estamos sós. Estamos sempre ligados, conectados e, por vezes, não encararmos a solidão como algo positivo, digna de um amadurecimento pessoal enriquecedor para as nossas vidas. Aliás, esta mensagem está bem presente na sua mais recente obra literária, lançada em 2011, Alone Together. Nesta, a autora frisa que há trinta anos atrás tudo era uma autêntica descoberta, não havia Facebook, Twitter, telefones “inteligentes” e ainda mal se sabia quais as utilidades de um computador; já no momento actual, graças aos rápidos avanços tecnológicos, podemos criar, navegar e executar as nossas vidas emocionais. A tecnologia é hoje arquitecta das nossas intimidades, sendo que estar online é hoje uma verdadeira tentação, quase que irresistível. Assim sendo, Alone Together espelha quinze anos de pesquiza realizada por Turkle na área das relações “tecno-sociais”, baseada em entrevistas com centenas de crianças e adultos, onde são descritas relações inquietantes entre amigos, pais e filhos, novas instabilidades na forma como encaramos a privacidade, a intimidade e a solidão, na qual Turkle expressa a sua vontade de que as pessoas, nomeadamente os jovens, não dependam tantos das tecnologias para se sentirem realizados, mas que apostem mais numa interacção humana directa.

Para terminar, convido-vos a visualizarem um anúncio muito recente, lançado em Abril de 2015, pela marca de cerveja portuguesa Super Bock, que espelha perfeitamente, a meu ver, a “ideia” defendida por Turkle.

Texto do anúncio:

“O que é que se passa com a amizade?

Se os amigos são tão importantes na nossa vida, como é que temos tão pouca vida para os amigos? Tudo serve de desculpa. O trabalho, a família, o sono, o sofá. Habituámo-nos a adiar encontros cada vez com menos caracteres. Conversamos com ecrãs. Rimo-nos com as teclas e fazemos likes para enganar a saudade. Mas entre um “não posso” e outro, os grandes amigos vão se tornando estranhos. O que é estranho. As grandes amizades não pedem muito. Mas pedem manutenção. Pedem olhares, silêncios, sintonia. Piadas que mais ninguém percebe. Pedem tempo. Mesmo que pareça pouco. Vai sempre parecer. Não precisamos de mil amigos, precisamos de bons amigos. Muito mais do que imaginamos. Vá lá… Liga-lhes e fura-lhes a agenda. Arranca-os da rotina. Das desculpas, seja a que horas for. Se estiveres de pijama veste umas calças por cima. Marquem encontro no sítio do costume e façam o que sempre fizeram. Nada! Tenham conversas que não levam a lado nenhum. Contem as mesmas histórias de sempre mas estejam juntos. Está na altura de pousarmos o telefone e levantarmos o copo. Se não poderes hoje vai amanhã. Mas vai mesmo. Se a vida conspira contra a amizade, conspiremos juntos para a defender. Leva a Amizade a sério!”

Referências Bibliograficas:

MANDIM, Andreia Alexandra Almeida (2012) “Crise dos media tradicionais e importância dos novos media: o papel dos blogues nacionais como meios de divulgação do Cinema” [http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/23308/1/Andreia%20Alexandra%20Almeida%20Mandim.pdf, acedido em Maio de 2015]

TURKLE, Sherry (2012) “Connected, but alone?” [http://www.ted.com/talks/sherry_turkle_alone_together#t-78309. acedido em Maio de 2015]

 

Rafael Pereira.

 

Um diferente meio, uma diferente repercussão da mensagem.

McLuhan

No século XX ocorreram profundas transformações políticas, económicas, sociais, mas sobretudo científicas, tecnológicas e artísticas que permitiram uma nova concepção do mundo.

Por exemplo, na arte, a originalidade ganhou um papel de extrema importância, onde as convenções clássicas foram deixadas à margem, produzindo-se uma arte nova que apelava à crítica, à imaginação e à ironia.

Igualmente, por volta da década de sessenta, investiu-se em perceber qual a repercussão dos media na sociedade. Um dos maiores investigadores deste fenómeno foi Herbert Marshall McLuhan (1911-1980). Este sociólogo canadiano produziu duas grandes obras: The Guttenberg Galaxy: the Making of Typographic Man (1962) e Understanding Media: the Extensions of Man (1964).

Destas obras extraem-se três aspectos fulcrais para se perceber a ideia de McLuhan, são eles: the medium is the message; os media como extensões do ser humano; e meios quentes e meios frios.

No primeiro aspecto, no qual o meio é a mensagem, McLuhan explicava que o mais importante não é o conteúdo, mas o veículo através do qual este é transmitido. Por outras palavras, McLuhan apostava em perceber o papel dos media enquanto difusores de informação. Esta interpretação gerou bastante controvérsia na época, dado que as anteriores pesquisas atribuíam grande significado à mensagem em detrimento do estudo do veículo por onde essa era transmitida.

Desta forma, é inevitável não se estudar as características específicas de cada media, ou seja, é preciso analisar pormenorizadamente os vários media, saber quais os seus defeitos e qualidades, para assim se definir qual a melhor forma de os utilizar.

Entramos, deste modo, no aspecto dos media como extensões do ser humano, isto é, os media recorrem aos nossos sentidos para se fazerem transmitir. McLuhan distingue três Eras: a Era Tribal, marcada por uma linguagem que privilegia os sentidos do gosto, do olfacto e da audição, onde a oralidade assume um papel enaltecedor em detrimento do poder da escrita; a Era da Escrita, na qual o sentido da visão torna-se predominante, favorecendo a distância individual, bem como a lógica e o pensamento linear, e o desenvolvimento da filosofia, da ciência e da matemática; a Era da Imprensa que nos remete à Galáxia de Gutenberg, onde se agudiza o predomínio da visão, onde a estandardização das línguas nacionais conduz ao nacionalismo, onde a uniformização da comunicação escrita elaborada pela imprensa antecipa o modo de produção industrial e onde se promove o desenvolvimento da ciência e do individualismo; e, por fim, a Era Eletrónica, definindo-se como uma autêntica “aldeia global”, na qual as notícias circulam a uma velocidade incrível, onde a televisão e os meios eletrónicos favorecem a participação e a espontaneidade e promovem a retribalização da humanidade, e cuja essência origina o declínio do pensamento lógico e linear na cultura eletrónica.

Para explicar melhor as suas convicções, McLuhan distingue meios frios de meios quentes. Os meios frios transmitem uma mensagem menos óbvia, sendo necessária alguma dedicação para a compreender, sendo exemplo, a fala, a animação, o telefone, a televisão, a escrita e a ideografia. Estes meios têm baixa definição e alta participação do receptor; por sua vez, os meios quentes transmitem uma mensagem precisa e clara que se impõe fortemente ao receptor, não exigindo uma leitura de grande esforço, como a imprensa, a escrita alfabética, a rádio, o cinema (excepto os filmes de animação). Estes meios apresentam ainda uma alta definição e uma baixa participação do receptor.

Obviamente que esta distinção de meios frios e meios quentes, hoje em dia, tem de ser questionada, visto que existem meios, como a televisão, que pode ser considerada um meio quente e frio ao mesmo tempo. Ou seja, a Era Eletrónica na qual nos encontramos actualmente tem meios cuja alta definição e a participação activa torna complicada e controversa a diferenciação entre frio e quente.

Em suma, o impacto de uma mensagem depende do meio através do qual esta circula. O meio modifica, sem dúvida, o peso de uma determinada mensagem, tal como o seu conteúdo.

Rafael Pereira.

Uma breve história da fotografia desde a sua descoberta até à contemporaneidade

É indiscutível a importância que a fotografia tem em pleno século XXI. No entanto, se recuarmos até à sua invenção, será que conseguimos imaginar qual o impacto desta descoberta? Estaria o início do século XIX preparado para receber com leveza e aceitação a fotografia? Bem, é isso que iremos perceber.

Começando pelo princípio, o primeiro grande nome a destacar na história da fotografia, é Aristóteles, conhecido filósofo da Grécia Antiga. Enquanto estava sentado debaixo de uma árvore, Aristóteles observou o reflexo do sol no solo, em forma de meia-lua, durante um eclipse parcial. Desta observação concluiu que quanto menor fosse a distância entre as folhas, que eram penetradas pela luz do sol, mais nítida era a imagem reflectida.

Quem diria que esta observação, ignorada durante séculos, viesse a ser resgatada no século XIV por pintores que utilizavam essa “técnica”, designada por “câmara escura”, para produzirem desenhos como material de apoio para as suas pinturas. Leonardo da Vinci foi um desses pintores, tendo sido o primeiro a descrever o conceito de “câmara escura”, embora esta descrição só tenha sido publicada em 1797, ou seja, mesmo na recta final do século XVIII. Deste modo, a “câmara escura” tratava-se de um “objecto” fechado, com um orifício que, segundo o princípio físico da propagação retilínea da luz (entrada de luz no objecto), permitia um embate dos raios luminosos na parede paralela ao orifício. Este embate resultava numa imagem real de um objecto invertido. Quanto menor fosse o orifício, mais nítida era a imagem formada, dado que a existência de raios luminosos vindos de outras direcções era menor.

Com o aparecimento da “câmara escura”, muitos foram aqueles que se interessaram pelo aperfeiçoamento desta técnica, essencial para a obtenção da primeira fotografia, cuja autoria é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce, em 1826. Este terá sido o primeiro a conseguir colocar em prática a técnica da “câmara escura”, expondo, durante oito horas seguidas, à luz solar, uma placa de estanho coberta por betume, um derivado do petróleo, permitindo-lhe, assim, obter a primeira fotografia de que há registos. Niépce intitulou a sua técnica de heliografia, visto tratar-se de uma fotografia conseguida através da junção do sol e da física.  Niépce, first photo world

Imagem daquela que foi considerada a primeira fotografia da História, atribuída a Joseph Niépce, 1826.

Posteriormente, Louis Jacques Daguerre, inventou o Daguerreótipo que consistia numa “câmara escura” com chapas de prata impressionadas. Estas eram viradas de um lado e outro até que, com iluminação adequada, fosse possível obter uma imagem em tons de cinzento e, para tal, as fotografias tinham de ser previamente iodadas. Através de documentos históricos, sabe-se que, em 1839, cada chapa custava, em média, 25 francos ouro, e, geralmente, estas fotografias eram preservadas em estojos, como se de jóias se tratassem. Por outras palavras, a fotografia era encarada como uma forma única de perpetuar a memória das pessoas, sendo tratada como uma verdadeira relíquia.

Contudo, se para uns a fotografia era utilizada para se obterem retratos, para outros, a fotografia torna-se essencial para a pintura. Desta forma, percebemos que a fotografia, no início do século XIX, é explorada pelos pintores, dando origem a uma secundarização da fotografia em relação à pintura – o pintor é um mestre que usa a fotografia como complemento para o seu trabalho.

Rapidamente, esta ideia foi contestada, iniciando-se, assim, uma revolta artística. Surgem os primeiros fotógrafos que defendem que a fotografia oferece um realismo muito mais preciso do que a pintura, não fosse a pintura algo facilmente manipulável. Além disso, a fotografia obtinha-se num curto espaço de tempo, ao contrário da pintura.

Depois de inúmeras discussões e de ofensas entre os apoiantes da fotografia e os que viam a fotografia como um produto da máquina e não do homem, reconhece-se a importância da fotografia para o mundo da arte.

E essa importância é nítida na actualidade. Facilmente se compram câmaras fotográficas, revelam-se fotografias e, sendo o século XXI considerado o “século digital”, nem é preciso imprimir uma fotografia para que esta tenha um valor simbólico e artístico.

Além disso, hoje, qualquer pessoa pode armar-se em fotógrafo, seja com a câmara de um telemóvel, de um computador ou de uma máquina fotográfica. Evidentemente que haverá sempre que distinguir um fotógrafo amador de um fotógrafo profissional, mas, o que pretendo transmitir, é o poder que a fotografia adquiriu na nossa sociedade, acessível economicamente a grande parte da população, ao contrário da pintura que envolve técnicas muito mais precisas, demoradas e dispendiosas.

Rafael Pereira.

Realidade Paralela

   social_media_network_marketing_strategies   Actualmente, a palavra distância tem, cada vez mais, um significado relativo, dado o progresso contínuo dos meios de comunicação social que funcionam como autênticos relâmpagos de informação. Desta forma, os média permitem-nos estar virtualmente em qualquer lugar, fornecendo-nos dados precisos e imediatos. Assim, torna-se difícil algum assunto escapar às lentes das câmaras dos jornalistas e paparazzi.

   O século XXI, dominado pela tecnologia digital, afectou positiva e negativamente a forma como as pessoas se relacionam. Se antes a distância física tinha o entrave da não facilidade de comunicação, hoje em dia, constata-se o oposto, dado a variedade de escolhas. O lado negativo disto é que as pessoas, nomeadamente os jovens, acabam por se isolar num “mundo paralelo à realidade”, um mundo que, muitas vezes, é falseado, viciante, traumatizante e que rouba tempo e qualidade de vida. Assim, o tempo vai-se passando, por exemplo, na internet, em aplicações como o Facebook, o Instagram, o Skype e o Line. Estas redes sociais são muito úteis, isso é indiscutível, mas retiram muito do processo social cara-a-cara.

   Assim sendo, não é de estranhar que na sociedade actual a solidão seja um sentimento bastante mais intenso do que noutros séculos. Existe uma música de Rui Veloso, chamada Não há estrelas no céu, em que ele canta: “Não há estrelas no céu a dourar o meu caminho / Por mais amigos que tenha sinto-me sempre sozinho. / De quevale ter a chave de casa para entrar, / Ter uma nota no bolso para cigarros e brilhar?” O que ele nos pretende transmitir e, adequando ao tema deste texto, é que não adianta termos dinheiro (ou milhões de amigos nas nossas redes sociais) quando, na verdade, sentimo-nos sozinhos, a precisar de desabafar, abraçar e falar com alguém, não adianta querermos brilhar e sermos os maiores na internet, quando somos frágeis e com uma auto-estima muito reduzida.

   Em conclusão, na minha opinião, os novos meios de comunicação social foram uma invenção fantástica, com infinitas vantagens. Contudo, à que reconhecer que estes geram uma dependência que nem sempre é saudável, pois interferem no modo como agimos com a sociedade.   

Rafael Pereira


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