Hoje em dia não é difícil depararmo-nos com múltiplos estudos sobre “linguagem virtual”, sendo os trabalhos mais conhecidos da autoria de David Crystal, que desde 2001 vem escrevendo sobre o tema, especificamente em “Language and the Internet”, “a Glossary of Netspeak”, “Textspeak”, “The gr8 db8” e a sua obra mais recente “Internet Linguistics”.
O contexto digital – como o presencial – possuí variações situacionais, e elas exigem adaptação linguística.
A linguagem que usamos na escola não é a mesma que empregamos em casa, e ainda a estilo linguístico que utilizamos na escola com os professores, não é a mesmo empregado com os nossos pais.
Num determinado contexto presencial, uma escolha contraditória à situação presente, pode gerar diversos problemas na interacção e por consequência o não-alcance dos nossos objectivos. O mesmo se pode dar no contexto digital, se não soubermos apropriar a nossa escrita a determinado episódio.
Citando Crystal, o contexto digital possuí cinco macro situações para que possamos supor que a linguagem utilizada seja também distinta – são elas o correio electrónico, os grupos de discussão síncronos, os grupos de discussão assíncronos, os mundos virtuais e a world wide web. Para David Crystal é inevitável que as pessoas ainda estejam a aprender a interagir nestas situações, a aprender tudo aquilo que estas têm de benéfico para oferecer e sendo assim, é inevitável o surgimento de uma nova linguagem nestes novos meios de comunicação. A influência sofrida pela linguagem nestas cinco macro situações reflecte-se principalmente no vocabulário e na ortografia. Esta nova linguagem é designada por “Netspeak”.
“Netspeak” é uma linguagem surgida no ambiente da Internet, que se baseia na simplificação informal da escrita, que tem como objectivo primordial tornar a comunicação mais ágil e mais rápida, fazendo dela uma linguagem taquigráfica, fonética e visual. Abreviações, simplificações, símbolos criados por combinação de caracteres, símbolos gráficos próprios e uma grande diversidade de recursos de comunicação por imagens utilizados na Internet são as principais características encontradas nas mensagens que utilizam esta linguagem.
Como exemplo desta linguagem temos os “emotions” – pequenos rostos que servem para demonstrar algum tipo de emoção. Estes podem ser utilizados nas SMS ou nos chats. Com estes “emotions” o interlocutor evita situações constrangedoras de ser interpretado de uma forma errada, pois o “rosto” denota a emoção ligada às palavras digitadas. Por esse meio, o leitor pode saber se algo foi dito com seriedade ou não.Um outro exemplo que demonstra a evolução que esta língua está a ter – decorreu em 2005 – quando o canal de TV por cabo “Telecine Prenium” lança o “Telecine Cyber Movie”, sessão em que as legendas dos filmes são escritas em “linguagem de Internet”. Para facilitar a compreensão dos textos das legendas, o site do canal criou um pequeno dicionário de palavras que aparecem na legenda.
Diferentemente do ambiente de chats, blogs e correio electrónico, quando deslocamos o netspeak para a televisão, retiramos o poder de escolha do usuário, neste caso, o espectador. Na net há a opção de usar ou não a linguagem, neste caso a única escolha possível é a de assistir ou não a determinada programação.
Este tipo de linguagem continua a se alastrar até chegar aos livros de banda desenhada.
Este livro é um exemplo perfeito da linguagem da Internet, onde está presente uma abreviatura, o uso do “emotion” e o cabelo do boneco tem o formato de uma arroba – que liga de imediato o boneco ao mundo cibernético.
Um último exemplo que mostra a presença desta nova linguagem, encontra-se presente na comida.
Na parte superior da embalagem, vemos a frase: “ Com + tempo de sabor”, em que o símbolo + substitui a palavra “mais”.
Numa outra imagem o sabor é descrito como e-mor@ango, em que a arroba e o cursor remetem à Internet. O objectivo da empresa responsável pela fabricação da goma de mascar certamente será atrair o seu público-alvo – na grande maioria composto por adolescentes e crianças – através de uma linguagem que julga ser própria deles.
Tudo isto faz com que a linguagem da Internet seja uma realidade no mundo dos jovens, espalhando-se, por consequência, entre as outras faixas etárias da população. Será que ainda há a possibilidade de classificarmos esse tipo de linguagem como errada?
O uso desta escrita gera grandes discussões, pois admitem que o uso desta linguagem pode comprometer a escrita formal e assim pode vir a prejudicar o jovem – ou qualquer outra pessoa -, quer na sua escolaridade, quer no mercado de trabalho.
Na minha opinião este novo tipo de “linguagem” só está a contribuir para o “assassinato da língua” e consequente degradação da escrita. É necessário que haja um enorme cuidado com o uso desta escrita pois se continuar assim pode ocorrer uma extinção da verdadeira escrita.
Duarte Covas
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