O número de pessoas que actualmente experienciam a arte presencialmente, nos locais à sua apresentação destinados, está a diminuir. Podemos pensar nisto como um efeito da conjuntura económica actual mas também pela facilidade de acesso a essas obras de arte, de uma forma mais económica e, de certo modo, mais cómoda para o espectador – através dos média digitais.
Mas não são só desvantagens. Ao criar uma nova forma de exibição que motive a experiência presencial do espectador – por exemplo, como o cinema está a fazer com o 3D, – as estatísticas podem ser invertidas.
A utilização da tecnologia digital no teatro pode ajudar a atrair mais pessoas aos espectáculos teatrais, uma prática que se está a perder cada vez mais. O exemplo que trago é a utilização de hologramas no teatro.
Os hologramas podem criar um espectáculo teatral totalmente diferente do que estamos habituados, aproximando-se do cinema e dos seus efeitos, mas de uma forma ainda mais real. Por exemplo, os hologramas permitem que o actor contracene consigo próprio, e o espectador tem a percepção real do actor em palco como também a percepção de uma figura virtual, igual ao actor, que contracena com ele. A cena está ao nosso alcance e estamos totalmente envolvidos no espectáculo. Na minha opinião, isto criaria uma experiência única, ainda mais se fossem utilizados mecanismos que nos poderiam fornecer os cheiros que constituem o cenário. Este processo de imediacia ia envolver o espectador naquele mundo fantasioso que o teatro cria, à semelhança do cinema, mas de uma forma muito mais motivante que poderia superar o cinema e trazer mais espectadores ao teatro, porque não vemos a acção através de um ecrã mas sim encontramo-nos no espaço em que tudo acontece. Assim, através das novas tecnologias, podemos criar outra dimensão para o espectador, que o faça sentir parte do teatro e da sua história, que o faça querer esta experiência e não contentar-se a vê-la em casa.
O público actual exige novas formas para concentrar a sua atenção (principalmente no teatro), devido à quantidade de imagens que nos invadem os olhos diariamente, sendo o estímulo visual um aspecto a ter em conta. Os média digitais podem fornecê-lo, de uma maneira original, que cative a experiência presencial – mais valorizada pela utilização de meios que normalmente não temos ao nosso dispor. Enquanto que o 3D já está a ser incorporado em televisões que facilmente adquirimos, o que nos permite ver filmes em 3D nas nossas casas, a criação de um mundo totalmente paralelo não está (e penso que dificilmente estará) disponível a qualquer um.
Por isso, esta nova forma artística pode retomar velhos hábitos que fomos perdendo ao longo do tempo, reinventando a tradição teatral ao integrar as tecnologias digitais nesta “velha” arte, adaptando o teatro à actualidade e enfrentando todas as dificuldades que advêm deste novo contexto.
Tatiana Simões