Um diferente meio, uma diferente repercussão da mensagem.

McLuhan

No século XX ocorreram profundas transformações políticas, económicas, sociais, mas sobretudo científicas, tecnológicas e artísticas que permitiram uma nova concepção do mundo.

Por exemplo, na arte, a originalidade ganhou um papel de extrema importância, onde as convenções clássicas foram deixadas à margem, produzindo-se uma arte nova que apelava à crítica, à imaginação e à ironia.

Igualmente, por volta da década de sessenta, investiu-se em perceber qual a repercussão dos media na sociedade. Um dos maiores investigadores deste fenómeno foi Herbert Marshall McLuhan (1911-1980). Este sociólogo canadiano produziu duas grandes obras: The Guttenberg Galaxy: the Making of Typographic Man (1962) e Understanding Media: the Extensions of Man (1964).

Destas obras extraem-se três aspectos fulcrais para se perceber a ideia de McLuhan, são eles: the medium is the message; os media como extensões do ser humano; e meios quentes e meios frios.

No primeiro aspecto, no qual o meio é a mensagem, McLuhan explicava que o mais importante não é o conteúdo, mas o veículo através do qual este é transmitido. Por outras palavras, McLuhan apostava em perceber o papel dos media enquanto difusores de informação. Esta interpretação gerou bastante controvérsia na época, dado que as anteriores pesquisas atribuíam grande significado à mensagem em detrimento do estudo do veículo por onde essa era transmitida.

Desta forma, é inevitável não se estudar as características específicas de cada media, ou seja, é preciso analisar pormenorizadamente os vários media, saber quais os seus defeitos e qualidades, para assim se definir qual a melhor forma de os utilizar.

Entramos, deste modo, no aspecto dos media como extensões do ser humano, isto é, os media recorrem aos nossos sentidos para se fazerem transmitir. McLuhan distingue três Eras: a Era Tribal, marcada por uma linguagem que privilegia os sentidos do gosto, do olfacto e da audição, onde a oralidade assume um papel enaltecedor em detrimento do poder da escrita; a Era da Escrita, na qual o sentido da visão torna-se predominante, favorecendo a distância individual, bem como a lógica e o pensamento linear, e o desenvolvimento da filosofia, da ciência e da matemática; a Era da Imprensa que nos remete à Galáxia de Gutenberg, onde se agudiza o predomínio da visão, onde a estandardização das línguas nacionais conduz ao nacionalismo, onde a uniformização da comunicação escrita elaborada pela imprensa antecipa o modo de produção industrial e onde se promove o desenvolvimento da ciência e do individualismo; e, por fim, a Era Eletrónica, definindo-se como uma autêntica “aldeia global”, na qual as notícias circulam a uma velocidade incrível, onde a televisão e os meios eletrónicos favorecem a participação e a espontaneidade e promovem a retribalização da humanidade, e cuja essência origina o declínio do pensamento lógico e linear na cultura eletrónica.

Para explicar melhor as suas convicções, McLuhan distingue meios frios de meios quentes. Os meios frios transmitem uma mensagem menos óbvia, sendo necessária alguma dedicação para a compreender, sendo exemplo, a fala, a animação, o telefone, a televisão, a escrita e a ideografia. Estes meios têm baixa definição e alta participação do receptor; por sua vez, os meios quentes transmitem uma mensagem precisa e clara que se impõe fortemente ao receptor, não exigindo uma leitura de grande esforço, como a imprensa, a escrita alfabética, a rádio, o cinema (excepto os filmes de animação). Estes meios apresentam ainda uma alta definição e uma baixa participação do receptor.

Obviamente que esta distinção de meios frios e meios quentes, hoje em dia, tem de ser questionada, visto que existem meios, como a televisão, que pode ser considerada um meio quente e frio ao mesmo tempo. Ou seja, a Era Eletrónica na qual nos encontramos actualmente tem meios cuja alta definição e a participação activa torna complicada e controversa a diferenciação entre frio e quente.

Em suma, o impacto de uma mensagem depende do meio através do qual esta circula. O meio modifica, sem dúvida, o peso de uma determinada mensagem, tal como o seu conteúdo.

Rafael Pereira.


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