Arquivo de Março, 2013

Uma pequena relação entre teatro e as teorias de Bolter e Grusin

Fiquei pensando muito sobre a última aula, e não pude deixar de fazer algumas comparações…

Diante dos conceitos de imediacia e hipermediacia podemos traçar uma linha de raciocínio ligada ao teatro.

Imediacia: a lógica de representação e presença dos meios em si próprios. Processos de transparência, naturalização e ocultação do meio.

Há aqui indiretamente um sentido de ilusão para o termo e seu conceito. Como se a intenção fosse enxergar além do meio, criar uma ilusão para quem vê ou usufrui daquele meio.

Não pude deixar de relacionar esta questão com o teatro realista, naturalista, etc. Existe uma intenção clara neste tipo de teatro que é de produzir uma imersão do espectador através do teatro, procurando uma ilusão, uma realidade, embora falsa, mas completamente convincente. Por um momento, o desejo deste teatro é que o espectador esqueça que está em uma sala, com um palco, com outras pessoas que nem ao menos conhece, assistindo atores fingindo ser quem não são.

Já a hipermediacia deixa-se mostrar,é além do meio e o próprio meio, estando muito relacionada ao teatro Brechtiniano, onde a ilusão é totalmente quebrada. Podemos nos emocionar com o personagem mas podemos também ser distanciados com a presença dos holofotes em cena, evidenciando, entre outros elementos, para o espectador a todo tempo, que aquilo é teatro. Há aqui um estranhamento por parte de quem usufrui do meio, sem que isto tenha uma conotação negativa. É preciso que personagem e ator se mostrem, que o teatro e o espaço teatro apareçam, que ilusão e quebra dividam o mesmo espaço, afinal, para se produzir a quebra da ilusão, é preciso que esta antes seja construída para depois ser quebrada.

O que podemos ver são duas formas de se fazer, duas formas de relação entre o meio e agente, que está muito presente nas artes em geral, e que tem tudo a ver com os conceitos desenvolvidos por Bolter e Grusin. Fazer este tipo de comparação aproxima mais a teoria da minha prática artística, e facilita o entendimento dos conceitos sobre os média, ainda mais, possibilita que nós entendamos que estes princípios descritos por Bolter e Grusin estão presentes em diversos movimentos artísticos, desde que o mundo é mundo.

Carolina França Corrêa

McLuhan, “o meio é a mensagem”.

mcluhan

O conceito de Aldeia Global surgiu na década de 60 por Herber Marshall Mcluhan quando este explorou os efeitos da rádio nos anos 20. A teoria de Mcluhan, que se caracteriza pelo contacto mais rápido e mais íntimo com os outros, está intimamente relacionada com o conceito de Globalização pois ambas reflectem uma visão de um mundo novo onde o desenvolvimento das tecnologias de informação e a facilidade e rapidez dos meios de transporte, transfiguram as relações de comunicação.

Em “The Medium is the Massage”, McLuhan afirma que vivemos num mundo em que o tempo e o espaço desapareceram e onde os media electrónicos nos rodeiam. Onde já não existe apenas a visão linear da imprensa como modelo de comunicação, mas um conjunto evoluções tecnológicas que nos permitem estar permanentemente em contacto. Esta ideia reflecte uma visão multissensorial do mundo, onde pessoas em qualquer local podem comunicar entre si como se vivessem numa aldeia.

O autor acreditava que, enquanto a imprensa nos destribalizou, tentando  separar-nos, individualizando, os media estão a “retribalizar-nos”, reconstituindo uma tradição oral. No entanto, quando McLuhan explorou a sua visão em 1967, a web não existia. O conceito de web apresenta-nos uma visão multissensorial da parte do mundo que nela está representada pois oferece meios a qualquer individuo para comunicar as suas mensagens a um universo infindável, pois essa informação está disponível a todos, à distância de um único clique. O tempo e o espaço perdem o seu significado, pois com apenas um clique pode dar-se a volta ao mundo.

Este conceito está eminentemente relacionado com a evolução das tecnologias de informação e comunicação que permitem que o mundo tenha relações próximas entre si como se de uma aldeia se tratasse. Este mundo interligado, permite encurtar distancias, realizar uma partilha quase imediata de informações mas também revela uma capacidade nociva nas influências, cada vezes mais globais, que este imediatismo cria em assuntos económicos, políticos, culturais, etc. nos vários pontos do mundo.

O conceito desenvolvido por McLuhan serviu para explicar a tendência de evolução do sistema mediático como elo de ligação entre os indivíduos e o mundo, onde este ficava cada vez mais pequeno perante o efeito das novas tecnologias da comunicação.

O autor considerava que, com os novos media, o mundo se tornaria numa pequena aldeia, onde todos poderiam falar entre si e o mais insignificante dos rumores poderia ganhar uma dimensão global.

McLuhan quando reflectiu sobre o conceito de Aldeia Global, elegeu a televisão como o verdadeiro paradigma desta ideia, um meio de comunicação de massa, que atinge um nível internacional e que começava a ser integrado via satélite. No entanto, podemos considerar que as comunicações de uma aldeia são essencialmente executados por dois indivíduos ou seja bidirecionais, logo só agora com meios como a internet ou o telemóvel, o conceito de McLuhan se começa a materializar.

Tiago Faria

Ilusões de ótica

Tema de escrita: O que significou ver a imagem em movimento pela primeira vez? O que acontece quando se filma o mundo?

 

“A tecnologia só é tecnologia para quem nasceu antes dela ter sido inventada.” (Alan Kay)

 Image

O cinematógrafo, criado pelos irmãos Lumière, teve como inspiração o praxinoscópio de Émile Reynaud, datado de 1877. Este, já aperfeiçoado do zootropo, consistia numa máquina, composta por imagens e espelhos que, com uma fonte de iluminação e fendas, permitia, ao ser rodada, uma ilusão de movimento.

O cinematógrafo foi o marco inicial da história do cinema. Este permitiu o registo de fotogramas que davam (e dão) a ilusão de movimento. Já desde a época de Thomas Edison, havia o desejo de captar a vida em movimento. Tal feito foi finalmente conseguido na década de 1880.

A partir daí, o cinema difundiu-se às massas. Os irmãos Lumière fizeram do cinema uma prática social.

Em 1895, estrearam-se com a exibição da sua primeira produção cinematográfica: “A saída dos Operários da Fábrica Lumière” (http://www.youtube.com/watch?v=fNk_hMK_nQo) .

O cinematógrafo proporcionou o desenvolvimento da sétima arte. Cenas filmadas no quotidiano passaram a dar lugar a enredos, favorecidos pelos gestos “exagerados” dos atores uma vez que o registo do som ainda não era possível.

À medida que o tempo avançou, esta indústria foi desenvolvida. De “provinciana” passou a uma indústria de grande escala.

Ao filmar o mundo, regista-se o passado e o presente; permite-se o desenvolvimento das dimensões artística, cultural, política, social, etc.

Outrora fora espetacular, hoje, qualquer pessoa pode registar imagens em movimento. Muitos já não pensam como surgiu ou como é que é possível algo como um telemóvel registar o movimento do quotidiano; já não surpreende.

A criação do século XIX originou a banalização no século XXI.

“Tecnologia é a habilidade de organizar o mundo de forma que não tenhamos que senti-lo.” (Max Frisch)

Cristiana Almeida

Escrita Tradicional ou Escrita Digital ?

Antes de conhecermos ou aprendermos a usar um computador e a escrita digital, todos nós aprendemos a escrever à mão, com papel e caneta.

A escrita alfabética como a conhecemos não foi a primeira a aparecer, antes dela apareceram, há mais de 3 mil anos atrás, as escritas hieroglíficas, como a egípcia ou a maia, que se foram alterando ao longo dos séculos até à escrita que conhecemos hoje. Foi graças o Cristianismo, e a negação dos povos pagãos e dos seus conhecimentos, que chegamos ao alfabeto conhecido hoje. O alfabeto romano, o que nós usamos, é o sistema de escrita alfabética mais usado no mundo, apesar de não ser o único.

A escrita tradicional tem vindo a ser substituída pela escrita digital, e cada vez se nota mais a sua utilização, principalmente no ensino superior. Nas salas de aulas das faculdades encontram-se cada vez mais pessoas a usar um computador, ou um tablet, do que um cadernos, começando assim a escassear aos poucos.

Nos EUA, alguns estados determinaram que a escrita manual já não é obrigatória. Um dos seus argumentos é a caligrafia, que se demonstra uma perda de tempo. Muitos cientistas, e professores, são contra esta medida, argumentando que aprender a escrever à mão tem um papel importante no desenvolvimento das capacidades motoras e da linguagem das crianças. Um estudo publicado na revista “Science” evidencia que a escrita à mão muda as ligações neuronais do cérebro, tornando as crianças mais fluentes e ajudando na solidificação da aprendizagem. Mesmo assim uma responsável pelo sistema público de ensino do Colorado, onde a medida foi aplicada, indicou que «nas escolas americanas a tendência é para ter mais tecnologia», declarando que quanto menos os alunos se tiverem que preocupar com a forma mais tempo terão para o conteúdo. Apesar de a medida ter sido imposta em algumas escolas do país não é uma medida obrigatória. Cada escola poderá optar entre continuar a ensinar a escrever à mão ou começar a ensinar as crianças a escrever num teclado.

Em Portugal, e em muitos outros países, não se poderá substituir a escrita tradicional nos próximos anos porque imensa gente não tem acesso aos meios digitais para isso. Muitas crianças só têm acesso a meios digitais quando ingressam na escola. Nem todas as famílias têm como dar um computador ou um tablet aos seus filhos, o que atrasará esta medida, por enquanto.

Assim apesar da escrita digital estar a ganhar terreno perante a escrita tradicional, continua a ser importante que as crianças aprendam a escrever através da escrita tradicional e que depois evoluirem para a escrita digital. As probabilidades de isso acontecer no futuro são cada vez maiores, e mais cedo ou mais tarde as pessoas apenas aprenderam a escrever através de um computador.

Ana Nascimento

A arte de desenhar com a luz

Ao longo dos tempos a arte vem contribuindo para o registro da história da humanidade. Com a invenção da perspectiva no século XV, os artistas imortalizavam suas obras através da representação do real. Contudo, a partir do século XIX com o desenvolvimento da industrialização, foram criados mecanismos capazes de facilitar a forma de registro da imagem, das quais possibilitaram a reprodução técnica em massa.

A fotografia capta imagens de fragmentos da realidade que possibilita recordar o que se passou, tornando-se eterna através do registro da mesma, permitindo a capitação da foto mais rápida e realista, dinamizando o registro das imagens e substituindo a função da pintura de retratar o real. No entanto, seus ideais artísticos fotográficos foram contestados por sua reprodução técnica em massa, que segundo Walter Benjamim, foi a responsável pela perda da autenticidade da obra.

No contexto em que vivemos, é difícil imaginar como se foi registrar mecanicamente a imagem pela primeira vez, pois somos cercados por   dispositivos capazes de reproduzir  inúmeras imagens de diversos modos que nos permite tirar milhares de fotos  em um curto período de tempo. A evolução dos medias tecnológicos modificou a forma como são reproduzidas as fotos e tornou possível que a escrita da imagem pudesse ser feita por outros dispositivos, além de possibilitar uma melhor qualidade, efeitos, edições e a visualização imediata no ecrã.

De um modo geral, é possível afirmar que esse processo que se iniciou com a revolução industrial, teve como consequência uma nova forma de pensar e de se fazer a arte. A fotografia e o cinema foram consequências do desenvolvimento capitalista vigente, que contribuíram diretamente para a construção de uma nova visão artística. Sendo assim, a reprodução técnica em massa resultou na criação de um novo conceito para a obra arte do século XX.

Rodrigo Sá

Pequena coreografia da morte

Holbein-death

Totentanz, Michael Wolgemut, 1493

A dança dos mortos, antes de ser fotografia, foi também danse macabre.

A danse macabre é um tema ou uma alegoria da morte que surge no final da idade média da Europa, num período em que a guerra, a fome e a peste eram acontecimentos quotidianos e recorrentes para toda a população. Entre as suas ocorrências mais antigas contam-se os Mistérios, um género dramático da idade média, representações murais em cemitérios e igrejas, poemas e diálogos em verso. A ideia que articula é a de que a morte aceita toda a gente, independentemente da posição que cada um tem na sociedade. Não é possível dizer com segurança se o efeito procurado era, sobretudo, corrigir os desvios de quem não tinha nada a perder ou oferecer uma perspectiva trágica a quem vivia em permanente medo da morte.

Mas, se a danse macabre era apenas um tema ou uma alegoria da morte entre outros possíveis, com a fotografia, a fonografia e a cinematografia é o processo de representação que passa a inscrever a morte em tudo aquilo que representa.

Com a introdução destas técnicas, em vez de vermos o retratado a dançar com a sua morte, temos antes uma coreografia que é descrita pelo processo preciso e subtil com que o retratado é capturado e que é inscrita no cadáver impecável da imagem que fica.

[…]

Uma relação entre morte e realidade, portanto. A realidade como aquilo que escapa à representação e a morte como a possibilidade de realidade e representação coincidirem exactamente.

Por mais autos de fé em photoshops que façamos ou por mais distorcidos que passem os vídeos pelos ecrãs sem repararmos que o mesmo jogador de futebol é baixo e gordo quando está de pé e alto e magro quando está estendido no relvado, num caso claro de falta para penalty, a realidade e a morte na fotografia dançam indissociáveis.

yvesKlein

Le Saut dans le vide, fotomontagem de Shunk Kender de uma performance de Yves Klein, 1960

A VOZ COMO COMUNICAÇÃO

A relação dos indivíduos e a comunicação entre eles, sofreu grandes mudanças com a mecanização dos dispositivos de mediação de troca de mensagens no século XIX.

Foi crescendo no ser humano a necessidade de enviar informações e receber respostas de forma rápida e segura, o que levou a investigações para o desenvolvimento de meios mecânicos  que pudessem resolver essa questão, agindo em cima das unidades de tempo e espaço com o  intuito de diminuir cada vez mais estas fronteiras e acelerar a troca de informações.

Com a invenção do fonógrafo o som pode ser armazenado em um dispositivo mecânico e reproduzido pelo mesmo, e não satisfeitos em registrar a voz humana, desenvolve-se outros dispositivos de captação de traços humanos como a fotografia e a cinematografia.

O homem/mulher pro meio destes dispositivos poderiam ter guardados sua voz, imagem fixa e/ou em movimento de seus tipos característicos para a posterioridade.

Com o surgimento do telefone, como meio de comunicação, houve um salto fantástico na conquista da manipulação das unidades de espaço e tempo, pois agora a voz humana não era armazenada no presente e reproduzida no futuro e sim transmitida em tempo praticamente real, deixando de lado as fronteiras territoriais e levando a outro patamar a comunicação a distância.

Hoje olhamos para a facilidade que temos em adquirir um telefone portátil leve e barato que esquecemos o quanto oneroso era ter um terminal telefônico e com os baixos custos nas mensagens e nas ligações não selecionamos o que comunicamos, enquanto no passado este conteúdo era escolhido com muito cuidado para que não houvesse desperdícios.

A comunicação verbal é uma das formas mais usadas entre as pessoas e sendo assim o telefone foi absorvido pela sociedade de forma que sua incorporação pode ser entendida na nos dias atuais como um forma natural de comunicar e com o telefone as distâncias foram diminuindo aproximando os indivíduos e tendo uma elevação na qualidade da comunicação com a aceleração do tempo para a troca de informações.

Patrícia Grigoletto

Fotografia Evolução

“De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório.”

Henri Cartier-Bresson

Image                          1ª Fotografia: Joseph Nicéphore Niépce

Pouca gente sabe, mas a fotografia surgiu da lingua Grega: “photos” tendo como significado luz, e “graphein” que significa escrever. Apesar da palavra fotografia ter-se tornado popular só em 1839, a fotografia moderna só começou em 1820 com as primeiras fotografias permanentes. Contudo, a invenção da fotografia não é obra de um só autor, mas um processo de acumulo de avanços por parte de muitas pessoas, trabalhando, juntas ou em paralelo, ao longo de muitos anos.

Acredito que para as pessoas na época foi uma novidade imensamente grande, poder captar imagens do real, coisa que somente simbolicamente as pinturas poderiam mostrar. O caráter de prova do que realmente aconteceu, atribuído à imagem fotográfica pelo pensamento da época em que foi concebida pela primeira vez, transformou-a num duplo da realidade, num espelho, cuja magia estava em perenizar a imagem que refletia. Para muitos, dentre eles o poeta francês Baudelaire, a fotografia libertou a arte da necessidade de ser uma cópia fiel do real, garantindo um novo espaço de criatividade para esta.

No entanto entre o sujeito que olha e a imagem que elabora existem muito mais que os olhos podem ver. A fotografia para além da sua gênese automática, ultrapassando a ideia de analogon da realidade, é uma elaboração do vivido, o resultado de um ato de investimento de sentido, ou ainda, uma leitura do real realizada mediante ao uso de uma série de regras que envolvem, inclusive, o controle de um determinado saber de ordem técnica.

Porém foi a parti da fotografia que o cinema deve toda a sua história. Foi no final do século XIX, em 1895, na França, os irmãos Louis e Auguste Lumière inventaram o cinema a parti da fotografia em movimento, possibilitando esta criação revolucionária no mundo das artes e da indústria cultural.

Indícios históricos e arqueológicos comprovam que é antiga a preocupação do homem com o registo do movimento. O desenho e a pintura foram as primeiras formas de representar os aspectos dinâmicos da vida humana e da natureza, produzindo narrativas através de figuras. O jogo de sombras do teatro de marionetes oriental é considerado um dos mais remotos precursores do cinema. Experiências posteriores como a câmara escura e a lanterna mágica constituem os fundamentos da ciência óptica, que torna possível a realidade cinematográfica.

A partir do aperfeiçoamento do cinetoscópio, os irmãos Auguste e Louis Lumière idealizam o cinematógrafo em 1895, um aparelho que é uma espécie de ancestral da firmadora  movido a manivela e utiliza negativos perfurados, substituindo a acção de várias máquinas fotográficas para registrar o movimento. O cinematógrafo torna possível, também, a projeção das imagens para o público. O nome do aparelho passou a identificar, em todas as línguas, a nova ARTE. A apresentação pública do cinematógrafo marca oficialmente o início da história do cinema. O som vem três décadas depois, no final dos anos 20. O advento do som, nos Estados Unidos, revoluciona a produção cinematográfica mundial.

Contudo devemos aos inventores da fotografia toda essa revolução, que antes era apenas um meio para retratar a realidade existente da época e hoje serve como entretenimento e ARTE  em todo o mundo.

Caroline Dominguez

Dactilografia como porta para um novo mundo

“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica 
Tenho febre e escrevo. 
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, 
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.”

                                                                      Ode Triunfal – Álvaro de Campos

O século XIX pode ser considerado o primeiro da época contemporânea. Revoluções, evoluções, inventos, experiências de todos os espectros da realidade que possamos pensar. Certo é que o mundo, especialmente o ocidental, não mais olhou para trás depois do vislumbre de futuro que os pensadores e criadores deste século apresentaram. A revolução industrial expandia-se, a mecanização e mediação nas vidas comuns começava a tornar-se normal, sobretudo entre as elites. A produção dos bens culturais também não ficou alheada das novas técnicas e até novas formas de arte apareceram nesta época. A fotografia, o cinema, a gravação sonora revolucionou a música e, a escrita nunca mais foi a mesma depois da criação da máquina de escrever.

A introdução de uma mediação através de um teclado entre o papel e o Homem trouxe várias modificações ao acto até aí tão natural da escrita. A despersonalização será o mais relevante. A caligrafia até aí um elemento distintivo entre textos de pessoas diferentes, desaparece, dando lugar a uma tipografia mais industrial onde os caracteres têm um formato mecânico facilmente copiáveis. A presença do teclado com todos os caracteres possíveis à nossa frente permite um tipo de interação totalmente diferente do que acontecia manualmente e, claro, a criação das grelhas onde o texto é inserido desenvolveu uma nova consciência de texto que imediatamente os escritores da época e das seguintes começaram a aproveitar.

O movimento modernista envolveu-se precisamente no uso e abuso da máquina de escrever, numa nova forma de expressão e de entendimento do mundo. Um mundo em mutação rápida e constante e que influenciou indelevelmente uma era e o futuro. É difícil esquecer os versos impossíveis de Álvaro de Campos, expoente máximo daquilo a que gosto de chamar de modernismo industrial com a sua “Ode Triunfal”. Em Portugal e no mundo multiplicaram-se os experimentalismos e os pós-ismos, a literatura, a arte, a cultura, a imprensa e as sociedades mudaram. De novidade em novidade até à cibernética, à computação e ao mundo digital descendentes diretos dos primeiros teclados.

Poder-se-ia mesmo afirmar que a passagem da escrita manual para a escrita mecanizada e seguidamente para a escrita digital foi um dos momentos mais fraturantes na sociedade oitocentista e décadas futuras. Atrever-me-ia a dizer que a génese do nosso tempo está aqui, na dactilografia.

                                                                                                      Paulo Silva

O Som Como Retrovisor Mental E Emocional

Uma porta abre outras mil. O fonógrafo, instrumento introduzido em 1877 por Thomas Edison, veio permitir a gravação e reprodução de som, o que por sua vez viria a despoletar um caleidoscópio de modificações sociais. À semelhança de outros dispositivos de registo e inscrição automática seus contemporâneos, representou o encontro com uma estrada que lográmos abordar por estarem reunidos certos pré-requisitos de conhecimento. Nela a humanidade conduz com os faróis ligados perante um pano de fundo de nevoeiro e somente assim o horizonte, as possibilidades aumentam, instigadas pelo deslocamento na incerteza, na curiosidade e sede de progresso. Nesses parâmetros, podemos pensar a era digital, o “agora” como a simples consequência de uma viagem iniciada, uma nova via que construímos em movimento e para onde pudemos cortar.

Em termos de reacção inicial à invenção do fonógrafo (a uma voz desprovida de corpo), é de crer que tenha sido pautada pela surpresa, tendo em conta a relativa lentidão do século XIX, onde (deduzo) o desenvolvimento tecnológico seria considerado um acontecimento mais do que uma inevitabilidade trivial.

É possível que ninguém/poucos se tenha(m) apercebido do seu imenso potencial de versatilidade e dos modos em que poderia incidir na psique humana, aquando do seu surgimento. Enquanto mecanismo duplo (gravação e audição) alcançou uma dimensão de humanização e criou uma ideia personificada de interactividade. Viabilizámos a estranheza de ouvir a nossa voz fora de nós mesmos, conforme um emissor forasteiro. O registo sonoro desvinculou-se das noções de tempo e espaço e até a morte se tornou passível de transgressão. Etnograficamente, alguns costumes e idiossincrasias de povos isolados sobreviveram devido ao seu registo, havendo então um contributo não só para o multiculturalismo, mas também para mesclas, assimilações e conexão das diferenças e particularidades (salad bowl).

A utilização do fonógrafo, por ser um poderoso meio de comunicação, incluiu ainda fins políticos, publicitários, profissionais, educativos, informativos ou de entretenimento. Desempenhou o seu papel parcelar no erguer de uma sociedade de consumo e movida pelo pagamento a crédito. Pense-se inclusive na obsolescência do dispositivo, pois de forma constante surgiram outros, descendentes, em que a fidelidade do som era superior e a portabilidade acentuada.

A música foi alvo de uma autêntica revolução, ganhando tracção uma ideia de indústria. Tal como o fonógrafo se assumiu uma ferramenta de presença quotidiana, o mesmo se passou a verificar com essa prática artística. Deixou de se resumir a uma experiência in loco de salas de concerto ou cerimónias religiosas, democratizou-se o acesso. No conforto da habitação, no local de trabalho ou num meio de transporte, estar à disposição converte-se numa escolha. Já não era em exclusivo um hábito social, possibilita-se a audição solitária. Desvanece a ditadura corporal do aqui e agora.

Nesse contexto de ”escrita do som”, emerge um aspecto muito específico e relevante da música: o crescente carácter intimista. Imortal, transcendente ao momento e estando à disposição para reproduções repetidas, infiltra-se dentro de nós. Talvez por ser tão abstracta, tem a capacidade de nos afectar com intensidade, já que estimula a imaginação dos sentidos e a reconhecemos no inconsciente como criação humana, representante da nossa condição. Seguindo essa lógica, aquela canção algo adormecida (quanto mais estiver, maior será o efeito) que tantas vezes escutámos na infância, na adolescência ou num período concreto delas, ao ser reanimada na memória por nova audição, irá catalisar o contacto com filmes mentais de memórias autobiográficas e da ambiência envolvente. Por experiência própria, a hipótese que coloco é que apenas uma fragrância é comparável no que diz respeito a implicações nostálgicas com tamanho peso.

Quase todos estamos condenados a uma existência funcional, fatigante e de rotinas, das 9 às 5, dia após dia, ano após ano, vida após vida… Escasseia o tempo (e a energia) para processar os episódios. Perpetuada, a música oferece um contraponto: a constituição de bandas sonoras pessoais. Em reminiscência, associamos canções com seres humanos, lugares e sentimentos de outrora e fazemo-lo num grau expansivo. Distanciados e com este impulsionador analéptico, somos convidados a interpretações múltiplas e omnipotentes de ocorrências passadas, a compreender o porquê de as termos percepcionado de determinado ângulo em detrimento de um distinto. Do topo da montanha sofremos, num estado de calafrios, os terramotos existenciais numa magnitude mais elevada.

Se é verdade que o facto de sentirmos com violência vale intrinsecamente, também o é que a reprodutibilidade ínfima da música tem por encadeamento uma catarse de escala universal. Sendo seres de esconderijos internos e só partilhando os recônditos com uma exclusividade de indivíduos, a música, a expressão do outro é um telescópio para a sua essência e, em reflexo, para a do eu, para a da humanidade.

Qual o valor do (suposto) saber histórico (e qual a sua verosimilhança) se não for além de um mero conjunto de dados e fecharmos a razão à chave num edifício gélido (o mundo exterior da sociedade) ao qual não é permitido o ingresso do seu único descodificador, a emoção? Como equiparar os erros a um método de aprendizagem se cometemos de antemão e em insistência o equívoco primário de querer resumir o indivíduo à racionalidade? Não será, aliás, a memória emocional o máximo recurso incendiário de nos lembrarmos de não esquecer os lapsos?

                                                           Francisco Silveira

Imagens Mágicas

As imagens em movimento apareceram há bastante tempo na forma de ilusões óticas, como por exemplo, um engenho que tinha uma vela no meio e dos lados era colocada uma fita com um sequencia de imagens, esta ao ser girada fazia com que parece-se que a imagem se movimentava. Muitos anos mais tarde, a humanidade foi apresentada ás imagens gravadas por uma câmara, inicialmente foram apresentadas como pequenos espetáculos em feiras populares, as pessoas viam aquilo como algo bastante interessante. Hoje em dia as filmagens são algo bastante banal, visto que qualquer pessoa pode gravar aquilo que quiser, quando quiser.

Qualquer gravação realizada deixa uma pegada, por mais pequena que seja. Por exemplo, através das filmagens realizadas  no principio das câmaras  podemos ficar a saber mais sobre os costumes e o modo de vida das pessoas dessa época, tal como as gravações de hoje em dia irão mostrar a futuras gerações a nosso modo de vida. Outra coisa boa é a gravação de momentos familiares, visto que através destes podemos manter a memoria de todos os familiares e momentos passados com estes, trazendo assim umas belas memorias á nossa vida.

As  filmagens também nos permitem viajar por todo o mundo sem sair do sofá, através do visionamento de documentários sobre a natureza, ou até ficarmos a conhecer mais sobre a história do nosso planeta, através de documentários históricos. Também nos permite ficar a saber tudo o que se passa no nosso mundo, através da filmagem destes eventos, que podem ser vistos nos noticiários.

A invenção dos meios de filmagem foi algo que trouxe bastantes benefícios para a humanidade, quer seja em termos de entretenimento, de educação ou de simples gravação dos nossos momentos especiais.

 

Rafael Borges

Reminiscências

Ao colocar-me dentro do salão indiano do “Grand Café” de Paris no dia 28 de Dezembro de 1895, viria a presenciar tudo aquilo que aquelas três dúzias de pessoas testemunharam.. A primeira sessão cinematográfica no mundo! O significado de ver a imagem a movimentar-se pela primeira vez, durante 40 minutos nunca antes vistos, foi certamente uma experiência das mais inacreditáveis, incríveis e inimagináveis que o ser humano viveu.

Dez pequenos filmes – aproximadamente cada um com três minutos – foram exibidos perante o olhar atento daqueles que lá se encontravam. Várias opiniões de especialistas indicam que estes filmes são vulgares, que não têm qualquer mensagem a retirar ou a idealizar mas esquecem-se, que foi a partir daquele momento que o cinema nasceu e entrou, primeiramente naquele pequeno número de pessoas e mais tarde, na vida de todos nós.

No leque cinematográfico daquela tarde estava “A chegada do comboio à estação”, que mostra, obviamente, a chegada de um comboio a uma estação ferroviária. Reza a lenda que, conforme a locomotiva se aproximava cada vez mais da câmera, os espectadores começaram a pensar que seriam atropelados pela máquina e com isto, correram para fora do salão. Era o início de uma das evoluções mais importantes da era “pós-revolução industrial”, ainda estranhada pelos olhos virgens da população ignóbil da época – ignóbil no sentido tecnológico, não cultural.

Foi naquele pequeno salão onde a inovação atingiu um novo limiar. O impacto nos felizardos espectadores que lá se encontravam com certeza que foi impensável. Apesar de não ter nascido naquela época, não me é difícil imaginar as diversas reacções do público – uns espantados, outros maravilhados, alguns petrificados e como não podiam deixar de haver, aqueles que não gostavam do que viam e que mostravam todo o seu descontentamento por aquela novidade.

Inicialmente, a imagem em movimento era vista como meio de diversão e de lazer. A componente artística nos filmes era nula.

Mais tarde, os filmes documentais – registando paisagens e pequenas acções da natureza – deram lugar a pequenos sketches cómicos. Os filmes começavam a ter como propósito contar histórias e a narrativa – bem como a componente artística – germinavam de mãos dadas.

O cinema passava assim a responder aos gostos do povo, fazia rir a quem só lhe apetecia chorar, fazia esquecer a depressão global que se dava no mundo real. Com tudo isto, o cinema atinge um patamar ainda mais elevado. Passou-se a dialogar e a escrever sobre cinematografia.

Os irmãos Lumière conseguiram revolucionar o mundo e os seus habitantes.

Partindo para um outro ponto, quando se filma o mundo – na minha opinião – filma-se parte de nós. Digo isto porque um dos muitos pontos positivos que a filmagem do mundo nos permite, é recordar. Ao gravarmos determinado momento das nossas vidas, podemos rever vezes sem conta as nossas reminiscências – tal e qual como aconteceu -, partilhar com os nossos amigos e não nos preocuparmos em dizer “ se a memória não me falha” ou “quem me dera que estivesses lá para ver”.

A filmagem tornou-se algo bastante fácil, acessível e recorrente. Agora existem câmeras de filmar simples de transportar para qualquer lado, ou câmeras nos telemóveis, o que faz com que possamos registar momentos marcantes ou momentos banais das nossas vidas e partilha-los com todo o mundo através da Internet.

Duarte Covas

Da informação à comunicação, do ensino ao lazer

Nos dias que correm é comum associar o cinema, o teatro ou a televisão a formatos de vídeo, algo que foi gravado ou capturado para mais tarde ser reproduzido. Esta é uma ideia com a qual a minha geração vive desde que tenho memória, uma ferramenta que utilizamos para a nossa aprendizagem, a nossa “aculturação” ou simplesmente para nosso entretenimento.

No entanto se recuarmos até aos últimos anos do século XIX, verificamos que toda esta realidade estava então a dar os “primeiros passos”, estabelecendo uma relação com as pessoas e com a sociedade. Um choque para muitos, um passo gigantesco para aquele que (não muitos) anos mais tarde se viria a um tornar um mundo cada vez mais tecnológico: da informação à comunicação, do ensino ao lazer, a imagem em movimento é suporte para tudo. Foi então com as primeiras experiências fílmicas dos irmãos Lumiére que se foi tendo os primeiros contactos com esta ideia de “ver aquilo que aconteceu antes”, registando pequenas e simples sequências da vida quotidiana.

Durante o século XX, o desenvolvimento técnico em torno do conceito de vídeo é constante e constitui um longo processo até aos dias de hoje. Actualmente qualquer telemóvel, computador ou tablet vem munido duma câmara, o que só prova que a imagem em movimento está cada vez mais perto de nós. Outra prova disto mesmo é a existência de um dos sites mais visitados diariamente e em todo o lugar, o YouTube, surgindo como uma ferramenta preciosa, tanto na captação de realidade como no auxílio de estudo, passando pelo lazer. Este site cresce todos os dias graças aos contributos de milhares de pessoas, uma espécie de fonte infindável de conhecimento, feito por nós, para nós.

É certo que das antigas filmagens a preto e branco de 1895 aos anúncios de publicidade de uma marca qualquer dos dias que correm vai um grande salto, mas esta é a tendência que a nossa sociedade parece querer adoptar, o desenvolvimento constante a uma velocidade impressionante, cativando o maior número de pessoas possível e conectando-as entre si.

o paradoxo

Tema de escrita: o que acontece quando se filma o mundo?
A pergunta levantada por este tema de escrita tem, a meu ver, uma simples e única resposta: quando se filma o mundo, cria-se uma base de informação representativa desse mundo. O problema surge aqui, ao levantar-se uma segunda questão. O que acontece quando se cria essa base de informação filmada? A partir desta pergunta, sou movido a refletir sobre as consequências desta tecnologia em particular e das tecnologias em geral, e começo a encontrar argumentos para construir uma “tese” – cada nova tecnologia que surge tem, paradoxalmente, desvantagens que vão precisamente contrariar as suas vantagens, de alguma maneira.
Senão, repare-se. A filmagem do mundo permite-nos, acima de tudo, recordar. Dá-nos a possibilidade de memorizar, a longo e imediato prazo, as imagens do mundo. Mas o que acontece com a instalação desta tecnologia nas nossas vidas é que passamos a ver e a lembrar mais o mundo através de registos como a filmagem, em vez usarmos a nossa memória. Parece que tendemos a perder capacidade de olhar e memorizar o que vemos, porque não é necessário um esforço mental constante para tal, devido à omnipresença de registos filmados do mundo. Como se a filmagem se tivesse tornado uma extensão da nossa visão.
Este efeito paradoxal é deveras curioso e, a meu ver, é algo que acontece regularmente com a tecnologia.
Com isto não quero defender que a tecnologia apenas tem lados negativos, mas acho interessante o efeito que ela tem em nós, quando instalada em nós como extensões de nós próprios.

Adivinhação e futuro técnico-mediático: representações e visões possíveis

“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos…”

(Charles Dickens, Um conto de duas cidades)

Com a disponibilidade, cada dia maior, de ferramentas tecnológicas mais precisas e em constante inovação, não é difícil para nós imaginarmos um futuro totalmente tecnológico, interativo e mediatizado, pois de certo modo já vivemos tal realidade. Existem centenas de produções, que vão dos filmes de ficção científica a documentários, em que podemos visualizar um futuro hipertecnológico. O vídeo «A Day Made of Glass…» (2011) da empresa «Corning Incorporated» é só mais um exemplo em que podemos ver tal projeção. E partindo dos vários meios que possuímos hoje, não nos parece estranho que, em muito pouco tempo, este futuro se torne uma realidade possível.

As diversas tecnologias estão envolvidas com tal força na sociedade e novos meios surgem tão rapidamente que a sociedade mal tem tempo para assimilá-las. Hoje em dia a comunicação, interação e principalmente informação que os médias oferecem nos chegam de forma fluida e rápida, como jamais antes. E se tratando das possibilidades tecnológicas-mediáticas, temos um universo quase ilimitado.

Hoje é fácil imaginar, ou se preferirmos “prever” o futuro, adivinhações sobre o universo do qual tratamos aqui, já há muito, não nos parecem tão impossíveis. Muitos são os teóricos que, em maior ou menor grau, arriscaram prever um futuro no qual as ciências tecnológicas e multimédia se apresentariam de forma intrínseca ao ser humano, como algo inimaginável em tempos passados. Em Heidegger, neste caso a dizer sobre a cibernética, podemos exemplificar tal possibilidade, pois se manifestaram como certa visão futura:

“Não é necessário ser profeta para reconhecer que as modernas ciências que estão se instalando serão, em breve, determinadas e dirigidas pela nova ciência básica que se chama cibernética. Esta ciência corresponde à determinação do homem como ser ligado à praxis na sociedade. Pois ela é a teoria que permite o controle de todo planejamento possível e de toda organização do trabalho humano. A cibernética transforma a linguagem num meio de troca de mensagens”. (HEIDEGGER, 1983, p.72)

“É o melhor dos tempos. É o pior dos tempos”. Aludindo a Charles Dickens, assim começa o vídeo «EPIC 2014» produzido em novembro de 2004, por Robin Sloan e Matt Thompson, no qual em 8 minutos de duração nos é mostrado as várias mudanças que ocorreriam, entre 2004 e 2015, em um dos principais meios de busca e informação, o Google, dialogando com outros diversos veículos de comunicação de massa e entretenimento. Penso que no ano da produção do vídeo, a previsão feita pelos realizadores parecia algo distante para o público, mas ao assistirmos «EPIC 14» hoje, podemos dizer que tais projeções sobre o futuro destes meios, ou destas empresas, não se mostraram tão ficcionais.

Vários episódios apresentados no vídeo não se concretizaram. Outros meios de comunicação e informação, redes sociais e de entretenimento surgiram ou se desenvolveram de forma bem maior do que o mostrado. Podemos citar, dentre muitos, a expansão do Facebook e da Wikipédia, a criação do YouTube e Twitter… Mas é certo que as projeções futuras vistas em «EPIC 14» estão para longe de serem tidas como totalmente fracassadas.

Algo interessante que é descrito no vídeo é a surgimento do «Googlezon» que, “aliado a uma tecnologia de busca insuperável” (Google) e “mecanismos de recomendações sociais” (Amazon), juntos utilizariam “os conhecimentos detalhados sobre a rede social de cada usuário, dados demográficos, interesses e hábitos de consumo para promover uma personalização total de conteúdo e de propagandas”. O «Googlezon» nunca existiu. Mesmo assim podemos dizer que os produtores do vídeo acertaram em algo, pois o que vemos hoje no Google, Facebook, YouTube ou qualquer outra plataforma de informação ou redes sociais, são ofertas de produtos e informação voltada ao consumo, baseados nos dados colhidos pelos usuários.

Uma vez conectados a internet nossos perfis, dados de busca e acessos são armazenados e posteriormente utilizados pelo Google ou Facebook por exemplo. Assim uma quantidade ilimitada de propagandas estritamente voltadas ao nosso gosto, ou muito próximo disso, nos é mostrada toda vez que estamos em frente ao computador ou conectados a rede através de qualquer dispositivo, em diversas plataformas ou sites. Esta é apenas uma ligação que podemos fazer relacionando o vídeo ao que hoje é realidade, ao o assistirmos muitas outras associações podem ser feitas.

A ideia foi lançada. Navegamos em um oceano ilimitado, que para a maioria é ainda incerto e desconhecido. O que iremos ver e vivenciar em um futuro próximo? Quais serão as descobertas e mundos possíveis que encontraremos ao pensar ou tentar adivinhar sobre as diversas tecnologias, atreladas aos multimédia ou a própria cibernética? O que restará depois do maremoto? Fantasiem, arrisquem adivinhações, quase tudo é possível em um oceano de possibilidades.

Evandro Santos

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Referências:

DICKENS, Charles – Um conto de duas cidades. São Paulo: Estação Liberdade, 2010. ISBN 9788574481807

HEIDEGGER, Martin – O fim da filosofia e a tarefa do pensamento. In: HEIDEGGER, Martin. Conferência e Escritos Filosóficos. 2ª ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

EPIC 2014. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/EPIC_2014

EPIC 2014 legendado em português. Disponível em http://www.youtube.com/watch?v=4OZ-ANCEchM

Realidade Em Filme

Tema de escrita: O que significou ver a imagem em movimento pela primeira vez? O que acontece quando se filma o mundo?

Atualmente vivemos num mundo altamente tecnológico, em que todos os dias estamos rodeados por novas invenções e somos bombardeados com as mesmas. É algo que faz parte do nosso dia e é algo ao qual já estamos habituados. No entanto, quando surge uma invenção verdadeiramente inovadora não ficamos indiferentes.

A primeira sessão de cinema feita pelos irmãos Lumière no final do século XIX foi uma dessas invenções inovadoras. É claro que para nós, que estamos no século XXI, ver um filme ou ver imagens em movimento, já se tornou numa coisa normal. Mas e para as pessoas daquela época?

Devo admitir que para mim é um pouco complicado colocar-me na pele dessas pessoas, por vários motivos. Eu nasci numa época em que um telemóvel ou um computador eram grandes invenções, em que a fotografia já fazia parte da vida das pessoas, assim como o vídeo. Não que isso tornasse essas invenções menos fascinantes para mim, mas apenas não havia aquele deslumbramento que se costuma ter por algo absolutamente novo e revolucionário.

Penso que foi isto que aconteceu quando as pessoas viram imagens em movimento pela primeira vez. Provavelmente nem acreditavam no que estavam a ver. Era algo impensável.

Uma reação semelhante a essa que podemos encontrar nos dias de hoje, pode muito bem ser o surgimento do cinema 3D. É algo completamente novo e revolucionário. É uma outra forma de ver cinema. E apesar de ainda ter alguns problemas a nível técnico, e de algumas pessoas não serem fãs, temos de admitir que nos deixa a todos bastante maravilhados.

A pouco e pouco a filmagem começou a tornar-se bastante recorrente na vida das pessoas desde aquela primeira sessão de cinema. Criaram-se câmaras de filmar mais portáteis, mais acessíveis à população e estas começaram a gravar momentos das vidas delas. Os primeiros passos do bebé, um concerto da sua banda preferida, etc. Para além das filmagens mais pessoais e mais íntimas, começaram a ser filmados momentos marcantes do mundo onde vivemos. Quem é que não se lembra, por exemplo, dos vídeos amadores que filmaram os ataques às torres gémeas?

Esses e tantos outros vídeos que gravaram e gravam grandes momentos da humanidade, tornam-se numa forma de memória coletiva, e ficam a fazer parte da história do Homem para sempre.

Hoje em dia, com câmaras incorporadas nos telemóveis, penso que é cada vez mais fácil filmar o mundo, e isso permite igualmente uma troca de informações entre as diferentes zonas do mundo muito mais rápida, visto que estes vídeos chegam às mãos dos média muito facilmente, e estes tem a capacidade de difundir as notícias de última hora a uma velocidade surpreendente.

 

Filipa Machado

IMAGEM EM MOVIMENTO.

O desejo do homem em representar a própria imagem é muito antigo, dos primórdios desenhos rupestres se percebe o desejo também de enxergar essas imagens em movimento. Os signos encontrados nas cavernas de Altamira na Espanha, já são representados em certo tipo de perspectiva que dão uma certa sensação de movimento; no entanto, esse desejo com o passar de milhares de anos não se perdeu e as pesquisas e estudos de como captar uma imagem e, sobretudo fazer com que ela se movimentasse não se perdeu com o tempo, muito pelo contrário tornou-se altamente cobiçado, estudado e realizado.

Depois dos primeiros registros cinematográficos dos irmãos Lumière, a sétima arte não parou mais de se expandir. Das primeiras fotografias nas quais algumas pessoas achavam que sua alma ficaria presa ali até se perceberem projetadas em uma tela, não custou muito tempo. Nas primeiras tomadas em frente à fábrica dos irmãos Lumière, registrando a saída dos seus empregados; aquelas pessoas nem ao menos desconfiavam que estivessem colaborando com o desenvolvimento da nova arte. Não se restringia mais em captar uma única imagem e sim todo um acontecimento; a riqueza dos detalhes comportamentais das pessoas de uma vez por todas já poderiam ser observados e analisados por diversas vezes. O modo como caminhavam e gesticulavam, as expressões faciais e sentimentais não estariam mais congeladas no tempo.

A magia dos primeiros filmes de curtas e mudas metragens, embalados pelas pequenas orquestras empolgavam o público que se reuniam no maior alvoraço. E muitas vezes se assustavam pelas tensões provocadas pelas impressões que as projeções das carruagens e comboios produziam, pareciam andarem de encontro ao público e que em frações de segundos o esmagaria. As surpresas não paravam, a cada sessão uma novidade, ou melhor, o cotidiano visto por outro ângulo.  Assim o mundo começa a se conhecer melhor, a se perceber; com a expansão de novidade apareceram muitos interessados e ricos o bastante para financiarem as próximas narrativas. O teatro antes encenado nos palcos passou a ser captado pelo cinematógrafo (máquina que era usada para capturar e projetar imagens) nas ruas, praças e praias além dos cenários produzidos para as tomadas; com isso o registro da passagem do tempo também se tornava mais evidente.

Após a criação e desenvolvimento do cinema o mundo não foi mais o mesmo. A circulação das películas pelo mundo fez-se perceber outros modos de vidas, as culturas e características intrínsecas de muitos povos que antes eram vistas somente através das antigas gravuras e fotografias. Os métodos de encenações se desenvolveram para uma outra vertente, deu asas ao que antes era imaginário. Os efeitos de imagem possibilitaram que a criatividade não estagnasse nas mesmices, porque cada ato captado passa a ser novo e principalmente quando apreciado de perspectivas diferentes, mesmo em preto e branco tudo era muito vivo, novo e emocionante, mesmo mudo não deixava de se comunicar e deixar uma mensagem.

Luís da Paixão.

Da escrita manual ao teclado

A escrita à mão surgiu acerca de cinco mil anos, e naquela época começou por ser feita em barro, sendo que posteriormente começaram a ser utilizados materiais como madeira, metal e pedra para escrever. Começando estas por ser utilizada na escrita de nomes sendo que para esse efeito utilizavam símbolos, começando depois a escrever os sons das palavras, desenvolvendo esta técnica e aperfeiçoando-a até aos dias de hoje.

Desde cedo a escrita à mão é usada para diversas finalidades, algumas destas úteis para a nossa vida, como por exemplo para a educação ou como meio de comunicação. Em tempos tratou-se de uma grande descoberta, mas com o passar dos tempos acabou por se tornar trivial.

Até mesmo no sistema de educação a escrita se começa a extinguir lentamente, embora por enquanto ainda prevaleça, sendo cada vez mais utilizados os meios tecnológicos nas salas de aula, começando a abolir-se desde cedo o recurso à escrita convencional, o exemplo significativo desta situação é o caso dos computadores que o governo implementou no ensino primário os designados “Magalhães”. Podemos concluir, portanto que hoje em dia já não se escreve tanto em folhas de papel, mas sim em computadores, tablets e outros assessórios com teclados físicos ou virtuais. Esta situação é fruto das vantagens que estes apresentam nomeadamente o facto de serem mais práticos e rápidos do que a escrita manual. No entanto é de sublinhar a importância que a escrita apresenta no desenvolvimento das capacidades motoras da linguagem, deixando portanto o cérebro mais activo.

Ao optar-se por escrever em teclados, corre-se o risco da escrita à mão se tornar apenas um registo passado, esquecendo-se de todas as vantagens inerentes que a escrita à mão acarreta uma das quais enunciadas anteriormente.

Com isto, não pretendemos afirmar a exclusão das novas tecnologias no nosso quotidiano, mas antes sublinhar a importância que a escrita acarreta nos dias de hoje, utilizando as novas tecnologias como o meio complementar da mesma e não como um substituto, pois esta devido à transformação que proporcionou no quotidiano e a importância adstrita à mesma é insubstituível.

 

Sílvia Santos

” A good snapshot keeps a moment from running away.”

Eudora Welty tinha razão.

Há quem diga que a fotografia é uma arte cruel e irónica; devolve-nos as recordações, o passado, e por vezes impede-nos de viver o presente ao continuar a reavivar os cantos da nossa memória. Eu não penso assim.
Claro que quando Joseph Nièpce concebeu a primeira fotografia não pensou nisso também. Nem, uns anos mais tarde, Daguerre. Nem nenhum dos que lhes sucederam durante pelo menos a década seguinte. Porque o que importava na altura era a descoberta em si – o poder capturar o momento, congelar o presente e poder transpô-lo para algo táctil – e o seu aperfeiçoamento através de enumeras tentativas. Mas a fotografia é muito mais que isso.
A fotografia é a fracção de segundo do momento em que estávamos presentes. A fotografia é a nossa memória posta num papel. A fotografia é a alma de alguém, congelada. A fotografia guarda por nós aquilo que sabíamos que a nossa mente não iria conseguir manter delineado e fácil de aceder. A fotografia somos nós.

Mas, a fotografia e a sua arte não é só poesia. Ou pelo menos já não o é mais. Existe todo um lado obscuro e mesquinho na fotografia que surgiu nos anos 20 – aquando o inicio da época dourada do fotojornalismo – em que esta se tornou um dos alicerces políticos e sociais. E todo este lado foi explorado até aos dias de hoje, pela média.
Diariamente a sociedade é confrontada com fotografias tiradas de contexto ou até manipuladas de forma a sustentar determinada ideia porque, actualmente, apesar das pessoas terem a noção de que a fotografia pode não representar a verosimilhança dos factos, esta continua a valer mais do que um texto repleto de argumentações válidas – quanto mais não seja pelo facto de pertencermos hoje em dia a uma sociedade preguiçosa que ao invés de ler notícias, lê cabeçalhos e vê as fotos enquanto desfolha as páginas, quer seja do jornal, quer seja da revista cor-de-rosa.
A fotografia tem poder. Não tanto quanto um vídeo, é certo. Mas continua a ser soberana no que toca a apelar ao sentimento do Homem – seja de que espécie for o sentimento. Além do mais, (não querendo puxar a brasa à minha sardinha, como se costuma dizer, mas já a fazê-lo) convenhamos que a fotografia tem muito mais classe… Existe toda uma panóplia de paradoxos na fotografia que nós tentamos desvendar ao olhar para ela.
Quando a fotografia é simples, sem manipulações, a fotografia é subtil, mas cruel na sua verdade. Pode ser velha e sem cor e ser mais bela que um objecto novo e colorido.

Para mim, que nutro uma paixão acima da média por esta arte, a fotografia mais poderosa é o retrato.
É extraordinária a forma como, quando estamos perante uma camera, o nosso rosto nos trai e desvenda tudo o que nós somos, mesmo o que não queremos mostrar aos olhos do outro. Toda a nossa essência fica nua no retrato.
Eu costumo dizer que eu queria que as pessoas e o sentimento durassem para sempre, por isso comprei uma camera.

Lígia Breda M.

A evolução do Mundo Sonoro a partir do Fonografo

A partir do ano de 1877, o mundo sonoro começaria uma evolução que até nos dias de hoje vemos acontecer. A invenção do fonografo foi fundamental na descoberta de um mundo onde, até então, só se conhecia ao vivo, estando presente durante a execução, seja de qualquer que fosse a fonte sonora.

A invenção do mecanismo de gravação trouxe ao mundo uma infinita gama de possibilidades, estas que foram evoluindo ao decorrer da história. Hoje, podemos ter na palma de nossas mãos ou dentro de nossos bolsos uma infinidade de músicas de diversos estilos, de acordo com o gosto de cada um. Mas, isso acontece graças à grande evolução dos dispositivos de gravação e reprodução de áudio.

O fonografo surge como um sistema de gravação por cilindros, onde não havia tempo maior do que dois minutos para se registrar num cilindro de cera o ambiente sonoro.  O que fazia com que músicos tivessem que repetir inúmeras vezes as mesmas músicas e alguns até se recusavam a gravar. Os cilindros eram feitos de cera e riscados mecanicamente por uma agulha, e nestas linhas riscadas eram onde se armazenava a gravação sonora.

Embora, ainda, com grandes problemas que seriam resolvidos com o passar dos anos, surge a gravação e reprodução em discos, e com isso, nos primeiros anos do século XX, a popularização do Gramofone. A gravação em discos possibilitava maior tempo de gravação, contendo os dois lados graváveis, e eram mais fáceis de se armazenar. Os discos, em seu início, eram pesados e gravados ainda por sistema mecânico e acústico, o que limitava, ainda, o registro de sons muito graves e muito agudos.

Esta deficiência foi superada depois do desenvolvimento da gravação eletrônica, onde passa a se usar microfones para a capitação sonora. O armazenamento dos dados sonoros passa-se então, a ser eletro – magnética, iniciando-se pelas fitas K7.

Nos dias de hoje, os dados sonoros são armazenados eletronicamente, não necessitando de um espaço físico propriamente dito.

Ao longo da história vemos claramente a evolução dos dispositivos de gravação e reprodução sonora, que possibilitaram já no seu início e ainda mais nos possibilitam uma experiência sonora de qualquer lugar do mundo sem sair de casa, ou até mesmo o som apenas em nossos ouvidos e onde estivermos. Tornando-se cada vez mais naturais ao termos ao nosso alcance e fazendo-se natural no nosso quotidiano.

Francimar Santos


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