Acordo com o despertador do telemóvel, enquanto me visto, respondo a SMS perguntando onde é que a sala. Chego à Universidade e dirijo-me para a sala, e após a chegada do professor, começa a aula que, geralmente, são leccionadas recorrendo às novas tecnologias, enquanto a aula decorrer é normal comunicar com as colegas via SMS, para não incomodar a aula é claro, sobre coisas, geralmente, banais, como por exemplo, “o tempo hoje ´tá fixe”, “hoje ´tás bué q´rida”, “a tua camisola é bué linda”, À hora de almoço, que normalmente tem lugar em casa, o computador não pode faltar, ligo-o, consulto a minha página do Facebook, vou ao meu mail, e depois navego pelo computador mais um pouco, antes de partir para o estudo, novamente, sempre com o telemóvel ao meu lado. Durante a tarde é um pouco mais do mesmo, no que diz respeito à manhã. O importante aqui é que em qualquer lado de vá, em qualquer direcção que olhe vejo sempre alguém ligado às novas tecnologias. Costumava achar, como a própria Sherry Turkle afirma, que esta Era tecnológica era a melhor coisa de nos podia ter acontecido, permitia-nos conectar com o mundo fora, estar informado sobre as últimas notícias mundiais e comunicar, sem haver a necessidade de uma presença física. Para mim era um mundo novo que imediatamente quis explorar, era algo que me permitia ter a ideia que não estava sozinha, e isso para mim era o essencial.
A verdade é que as coisas não são o que parecem, eu, enquanto Ser Humano, necessito do contacto físico, visual com as outras pessoas, preciso de dialogar frente a frente, olhos nos olhos, preciso de descobrir, de tocar, de cheirar, de ver, de sentir. Cada vez mais me começo a sentir “presa” num mundo em que quem governa são as tecnologias, é quase como se tivéssemos num filme de ficção científica. Não digo que as tecnologias não são importantes, porque o são, eu preciso delas, para trabalhar, para comunicar com o mundo, necessito delas, essa é a mais pura verdade, contudo e passando a citar Sherry Turkle, quando esta é questionada acerca da quantidade de tempo que as pessoas usam a tecnologia:
Na minha pesquisa descobri que as pessoas gastam cerca de 80% a 90% do dia a receber e a mandar mensagens, seja numa rede social, telemóvel, ou e-mail. Vivemos com a constante expectativa de receber um SMS. A maioria deles são apenas um “oi”, “como estás?”, “estou aqui”. São amáveis e passam a ideia de que estamos juntos. As pessoas querem sentir que não estão sozinhas. Por isso, arranjam centenas de “amigos” com quem apenas trocam mensagens breves e de quem, na realidade, estão bem distantes.
A ideia de que estamos sozinhos é assustadora, mas a verdade dura e crua é que os nossos “amigos facebookianos”, os quais não conhecemos de lado nenhum, não são os nossos amigos. Os nossos verdadeiros amigos são aqueles que estão fisicamente presentes, que nos conhecem, que nos estimam, que se importam, que estão sempre ao nosso lado, física e psicologicamente, portanto, na realidade, não estamos sozinhos. É com orgulho que digo que não sou tão dependente das tecnologias, nomeadamente, o telemóvel e a televisão, como costumava ser. Para mim é essencial sair, descobrir, conhecer, dialogar. Sim as tecnologias são muito importantes, mas não são tudo. Termino aqui com duas citações de Sherry Turkle do seu livro, “Alone Together”, que penso que será um óptimo conselho para todos nós:
Cada tecnologia deve fazer-nos confrontar entre o que esta representa e os nossos valores. Isso é bom porque faz-nos parar e pensar o que realmente queremos, força-nos a construir as bases das nossas vidas, pessoais e profissionais. As tecnologias devem ser nossas parceiras;
Estamos tão conectados que esquecemos que podemos, de fato, estar uns com os outros em vez de nos comunicarmos eletronicamente. Estamos a perder as nossas capacidades de colaboração;
Carina Fernandes
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