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” A good snapshot keeps a moment from running away.”

Eudora Welty tinha razão.

Há quem diga que a fotografia é uma arte cruel e irónica; devolve-nos as recordações, o passado, e por vezes impede-nos de viver o presente ao continuar a reavivar os cantos da nossa memória. Eu não penso assim.
Claro que quando Joseph Nièpce concebeu a primeira fotografia não pensou nisso também. Nem, uns anos mais tarde, Daguerre. Nem nenhum dos que lhes sucederam durante pelo menos a década seguinte. Porque o que importava na altura era a descoberta em si – o poder capturar o momento, congelar o presente e poder transpô-lo para algo táctil – e o seu aperfeiçoamento através de enumeras tentativas. Mas a fotografia é muito mais que isso.
A fotografia é a fracção de segundo do momento em que estávamos presentes. A fotografia é a nossa memória posta num papel. A fotografia é a alma de alguém, congelada. A fotografia guarda por nós aquilo que sabíamos que a nossa mente não iria conseguir manter delineado e fácil de aceder. A fotografia somos nós.

Mas, a fotografia e a sua arte não é só poesia. Ou pelo menos já não o é mais. Existe todo um lado obscuro e mesquinho na fotografia que surgiu nos anos 20 – aquando o inicio da época dourada do fotojornalismo – em que esta se tornou um dos alicerces políticos e sociais. E todo este lado foi explorado até aos dias de hoje, pela média.
Diariamente a sociedade é confrontada com fotografias tiradas de contexto ou até manipuladas de forma a sustentar determinada ideia porque, actualmente, apesar das pessoas terem a noção de que a fotografia pode não representar a verosimilhança dos factos, esta continua a valer mais do que um texto repleto de argumentações válidas – quanto mais não seja pelo facto de pertencermos hoje em dia a uma sociedade preguiçosa que ao invés de ler notícias, lê cabeçalhos e vê as fotos enquanto desfolha as páginas, quer seja do jornal, quer seja da revista cor-de-rosa.
A fotografia tem poder. Não tanto quanto um vídeo, é certo. Mas continua a ser soberana no que toca a apelar ao sentimento do Homem – seja de que espécie for o sentimento. Além do mais, (não querendo puxar a brasa à minha sardinha, como se costuma dizer, mas já a fazê-lo) convenhamos que a fotografia tem muito mais classe… Existe toda uma panóplia de paradoxos na fotografia que nós tentamos desvendar ao olhar para ela.
Quando a fotografia é simples, sem manipulações, a fotografia é subtil, mas cruel na sua verdade. Pode ser velha e sem cor e ser mais bela que um objecto novo e colorido.

Para mim, que nutro uma paixão acima da média por esta arte, a fotografia mais poderosa é o retrato.
É extraordinária a forma como, quando estamos perante uma camera, o nosso rosto nos trai e desvenda tudo o que nós somos, mesmo o que não queremos mostrar aos olhos do outro. Toda a nossa essência fica nua no retrato.
Eu costumo dizer que eu queria que as pessoas e o sentimento durassem para sempre, por isso comprei uma camera.

Lígia Breda M.


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