“A transcendência das distâncias ganha meu presente e introduz uma suspeita de irrealidade até nas experiências com as quais eu creio coincidir”.
– Maurice Merleau-Ponty
A citação que abre esta postagem é bastante sintética quando falamos de comunicação nos dias de hoje. A atualização constante dos meios de comunicação do tempo de Merleau-Ponty ( primeira metade do século XX ) encontra no programa Skype o seu ponto mais elevado. Em referência ao uso de outros meios digitais como a rede social Facebook, percebo que no Brasil – em detrimento de Portugal, comunica-se muito mais através desta ferramenta e que muitas relações sociais se confirmam e se desenvolvem pelo ecrã. A “depressão” do século XXI encontra nessa dinâmica o seu porto seguro e é observável uma massificação de sintomas de caráter psicossocial, como a síndrome do pânico, que se desenvolvem, entre outros fatores, a partir da ruptura da convivência real em direção a uma irrealidade.
Sendo de outro país e morando em Coimbra por seis meses, é evidente que a mediação digital está inserida intrinsecamente em meu cotidiano. Seguro de seus pontos positivos, como a comunicação rápida e direta com familiares e amigos brasileiros, também atento para o seu lado “negativo” na extirpação da ideia de distância que se impõe a cada conversa. Entre Portugal e Brasil são três horas, significativas, de diferença. Ou seja, enquanto estou almoçando, meus amigos acabaram de acordar, o que impele um ajustamento de horários que reflete em nossa relação tecnológica.
Transcender a distância me aproxima muito mais de uma vida que deixei em meu país e que só agora, afastado dessa convivência, consigo tomar consciência com muito mais urgência. Sei o que ocorre nas dinâmicas sociais que mantenho com o Brasil em meus círculos de amizade, mas nada posso fazer ou participar a não ser, de fato, saber. Ou seja, o que percebo é uma experiência que se faz irreal posto que não me habilita a tomar partido de sua realidade existencial.
André Luiz Chaves