Quando foi discutida a teoria de Walter Benjamin sobre a aura da obra de arte, lembrei-me de uma comparação que pode ser útil para analisar a teoria, afastando-me da ideia de autenticidade de uma obra específica (ex:quadro original) ou da aura de uma obra digital como é o caso do poema de Fernando Pessoa visto na aula. Sendo assim, debruço-me na forma cultural como a sociedade encara o teatro e o cinema, residindo aí a comparação. Uma ida ao teatro é vista como um momento único: a sensação, o prazer e o desfrutar do momento presencial. É isso que faz o teatro ter uma aura, porque os actores, o cenário, o ambiente em forma geral criam algo que é fruto do momento e que sucessivamente vai despertar as mais variadas emoções e pensamentos no espectador. Este pode sentir (se estiver devidamente concentrado) que está a viver uma passagem única da vida porque aquela peça mesmo que observada uma segunda vez pela espectador, as suas sensações serão quase certamente diferentes da primeira vez em que assistiu à peça. Na minha opinião isto acontece porque há uma relação de intimidade entre aquilo que é a aura e em consequência desta aquilo que são as emoções e os pensamentos despertados no espectador. Há uma “aura teatral” que se encaixa na “aura humana” formada no momento. Portanto penso que o teatro é uma expressão artística que transparece uma aura na sua totalidade.
Realtivamente ao cinema este já difere um pouco. Obviamente que uma ida ao cinema basicamente se assemelha em quase todos os aspectos que compoêm a aura do teatro. O filme aqui é apresentado ao espectador (e quando pela primeira vez) como uma obra única que está sujeita á interpretação e análise do espectador e nesse sentido o filme contém um aura. Contudo quando digo que difere do teatro, refiro-me propriamente ao cinema digital e ao seu suporte mais conhecido e utilizado actualmente: o DVD (pelo menos no presente, porque numa questão de tempo será substituído pelo Blu-ray). O aparecimento do DVD fez com que o cinema e especificamente o filme, como obra artística, não perdesse totalmente a aura mas sim que emagrecesse “algumas gramas”. Por um lado a própria manipulação do espaço e do tempo na visualização do filme, através do leitor do DVD, faz com que a aura do filme surja enfraquecida, ou seja, o momento de visualização deixa de ser único e divide-se em vários fragmentos e o filme é visto mais como um objecto físico do que uma concepção artística. Mas por outro lado, o filme ao ser reproduzido no formato DVD pode suscitar um novo olhar que traz uma história e um contexto próprio que de certa maneira proporciona uma nova aura.
Ricardo Pereira
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